Carlos Newton
Agora, ninguém sabe quem tem menos credibilidade. Se o tenente-coronel Mauro Cid, o Supremo, a Polícia Federal ou o Jornal Nacional? O fato concreto é que nesta sexta-feira, dia 22, em meio ao turbilhão de notícias sobre as acusações feitas pelo ex-ajudante de ordens presidencial, aconteceu um fato verdadeiramente insólito, que derruba a credibilidade institucional de forma absoluta, digamos assim, em função da exclusividade garantida à da TV Globo.
Pouco depois das 21 horas, o jornalista Vladimir Neto estava posicionado em Brasília, para filmagem externa, trazendo às mãos o novo depoimento de Mauro Cid, já transcrito e trabalhado pela Sucursal da TV Globo, com destaque visual para as partes mais importantes, enquanto o resto da imprensa aguardava notícias.
ABSOLUTA EXCLUSIVIDADE – Até aquele momento, nenhum outro importante órgão de comunicação do país, como a Folha, o Estadão, o Correio Braziliense, as outras TVs, portais, sites e o próprio jornal O Globo tivessem publicado uma só linha sobre o assunto. Ou seja, o material foi destinado exclusivamente ao Jornal Nacional, cujo editor, William Bonner, já confessou que considera o telespectador do JN uma espécie de Homer Simpson, personagem imbecil de desenho animado.
Quer dizer, o Supremo direcionou o material com total exclusividade ao repórter Vladimir Netto, que vem a ser filho dos famosos jornalistas globais Marcello Netto e Miriam Leitão.
O repórter cedeu uma cópia ao g1, site de notícias da Globo, que só publicou a matéria às 21h04m, praticamente ao mesmo tempo do que o JN, mas o texto não tinha assinatura – portanto, apareceu do nada.
JORNALISMO DIRECIONADO – Interessante notar que a denúncia de Mauro Cid se referia àqueles depoimentos direcionados que foi obrigado a fazer, no pau-de-arara do século 21 que o Supremo instalou, para usarmos uma expressão do intelectualizado ministro Dias Toffoli.
E agora nos surge, no próprio Supremo do século 21, o jornalismo direcionado, feito à la carte na cozinha de Wiliam Homer, digo Bonner.
É triste acompanhar essa imprensa amestrada. O Supremo pendurou Mauro Cid no pau-de-arara do século 21, para que retirasse as acusações, e ele anuiu, com apoio de seu advogado, também amestrado. E assim a Polícia Federal ficou à vontade para compor sua narrativa, conforme afirmara o tenente-coronel na conversa grampeada.
P.S. – Essa armação global significa um final feliz para o Supremo e a força-tarefa de Alexandre de Moraes, porque as íntegras das gravações dos depoimentos de Mauro Cid jamais serão periciadas e podem até ser jogadas fora, como as fitas do Ministério da Justiça no dia 8 de Janeiro, conforme ocorreu na gestão de Flávio Dino. Depois voltaremos ao inquietante tema.