
Carlos Newton

Existem perguntas que não querem calar e o governo não se interessa em responder, muito pelo contrário. Por exemplo: qual a diferença entre o Brasil e outros países menos importantes, como Peru, Chile, Colômbia, Costa Rica, Eslovênia, México, Polônia e Turquia? Por que essas nações fazem parte da importantíssima OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e o Brasil continua barrado no baile.
Bem, a diferença é que esses países demonstram que estão realmente tentando reduzir a corrupção, enquanto o Brasil continua a acreditar que a promiscuidade entre governantes e empresários engorda e faz crescer. Justamente por isso, o Brasil é o único país onde a leniência à corrupção é monitorada de forma permanente pela OCDE, através de uma comissão especial, que acaba de lançar mais um de seus temidos relatórios.
PIADA DO ANO – Aliás, foi por essas circunstâncias que consideramos Piada do Ano a declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no início do governo, quando foi logo anunciando que estava tudo certo para o Brasil ingressar na OCDE,
Haddad vem sempre usando o nome da organização internacional para justificar seus atos de ministro. Chegou a atribuir à OCDE a recomendação para criar o voto de minerva (ou voto de qualidade) no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, o CARF)
Era “menas verdade”, como antigamente dizia Lula da Silva. A carta que recebeu em março da diretora da OCDE para políticas tributárias, Grace Perez-Navarro, era uma resposta a uma indagação do próprio Haddad sobre o CARF, e não uma recomendação do órgão.
RELATÓRIO NEGATIVO – Nesse final de ano, o mais recente relatório da OCDE é altamente negativo, porque aponta diretamente o retrocesso no combate à corrupção, citando a prescrição das penas antes que os processos transitem em julgado, e criticando também a Lei do Abuso de Autoridade, feita sob medida para intimidar juízes e procuradores que se atreverem a enfrentar os corruptos.
O mais importante, porém, foi o elogio ao ex-juiz Sérgio Moro, hoje ameaçado de cassação por ter mantido relações informais com outros países, sem autorização oficial. O relatório da OCDE afirma que, pelo contrário, Moro agiu acertadamente, porque essa colaboração informal é uma maneira efetiva de avançar nas investigações sem que a burocracia as atrase.
Segundo a OCDE o que usou Moro é uma “boa prática crucial e internacionalmente aceita para navegar com sucesso nos requisitos formais de cooperação legal mútua”.
P.S. – Moro foi um juiz que cumpriu seu dever, enfrentando alguns dos grupos econômicos e políticos mais importantes do país. Mas nada disso importa. A imprensa amestrada vai continuar exigindo a cassação dele, por ter enfrentado a corrupção endêmica. Esses jornalistas querem se vingar dele por ter colocado na cadeia o corrupto e corruptor Lula da Silva. E o mais incrível é a “justificativa” que apresentam. Alegam que a corrupção é um mal necessário para que haja desenvolvimento econômico. Sinceramente, minha ironia não chega a tanto.
