Carlos Newton
Nesta segunda-feira, ontem, portanto, falamos aqui que os comandantes das Forças Armadas foram os principais responsáveis pela revolta dos manifestantes bolsonoristas, ao permitir e defender a montagem e preservação do gigantesco acampamento em área de jurisdição do Quartel-General do Exército.
Com tamanha permissividade, os fanáticos acreditaram que estavam sendo apoiados pelo Exército em suas reivindicações de um golpe de estado, e no domingo houve a caminhada para a invasão, escoltada nas avenidas de Brasília por motociclistas batedores da PM, que conduziram a multidão até a porta do Congresso, onde o show de vandalismo começou.
A CULPA DO SUPREMO – No mesmo artigo, assinalamos que o Supremo tem sua parcela de culpa nesta situação, conforme assinalou o ministro aposentado Marco Aurélio Mello, em entrevista ao excelente repórter Rafael Moraes Moura, de O Globo:
“Falhou todo mundo, e começou a falha no próprio STF, quando ressuscitaram politicamente o ex-presidente Lula, dando o dito pelo não dito, quando enterraram a Lava Jato, quando declararam a suspeição do Sergio Moro, que veio a ser resgatado politicamente pelo Estado do Paraná. O que começa errado, nós aprendemos quando garotos, não acaba bem”, frisou.
Marco Aurélio Mello é engraçado. Esquece que lá atrás, em 2019, participou do começo de toda essa encrenca, ao apoiar a libertação de Lula da Silva, através da proibição de prender réu condenado em segunda instância, afrontando a doutrina adotada pelos demais 192 países da ONU. Se Marco Aurélio tivesse votado contra, Lula estaria preso até hoje e a Lava Jato não seria destruída.
ATAQUE DE BOM-SENSO – Somente após a indevida libertação de Lula é que Marco Aurélio teve um ataque de bom-senso e votou contra a vexaminosa anulação das condenações de Lula, contra a patética suspeição do juiz Sérgio Moro e contra a liquidação da Lava Jato.
Ou seja, ao criticar hoje os ministros que ressuscitaram politicamente o ex-presidiário, Marco Aurélio deveria fazer um “mea culpa” e confessar seu erro que consagrou o medieval retrocesso jurídico da prisão após segunda instância.
Deveria, também, arrepender-se de ter libertado de André do Rap, líder de uma das maiores facções criminosas do país, devido a um equívoco do juiz de primeira instância, que caberia a Marco Aurélio ter corrigido, ao invés de soltar o criminoso, que imediatamente se evadiu do país.
P.S. – O fato concreto é que o Supremo perdeu as estribeiras ao se meter em política. Como diz Marco Aurélio Mello, “ressuscitaram” Lula politicamente, com medo de Bolsonaro se perpetuar no poder. Agora, depois do vandalismo na Praça dos Três Poderes, os excelentíssimos ministros deveriam se olhar ao espelho e mirar seus rostos envelhecidos e envilecidos, como diria nosso amigo Rubem Braga, um brasileiro verdadeiramente correto e que cultivava a dignidade, coisa rara hoje em dia.
