Pedro do Coutto
Numa entrevista a Lauriberto Pompeu, Jussara Soares e Thiago Bronzatto, O Globo deste domingo, o senador Rodrigo Pacheco, indagado sobre os acontecimentos selvagens de Brasília, afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro não teve capacidade de conter o radicalismo de seus adeptos e que isso resultou na invasão e nas depredações ocorridas num cenário forjado para criar condições para um golpe militar contra o presidente eleito.
A afirmação de Pacheco, político de boa atuação, é fraca e falsa. Jair Bolsonaro poderia ter evitado o que aconteceu se pelo menos tivesse passado a faixa presidencial a Luíz Inácio Lula da Silva, reconhecendo a derrota nas urnas de outubro, tanto no primeiro quanto no segundo turno.
SILÊNCIO – Não agiu assim, ao contrário. Calou-se, não passou o cargo e nenhum de seus ministros do seu governo transmitiu o posto, com exceção do ministro da Defesa. Além disso, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, legenda em que se encontra, encaminhou um esboço de recurso à Justiça Eleitoral para anular o segundo turno de 30 de outubro.
Logo, Bolsonaro não teve apenas a incapacidade de conter a horda de fanáticos da extrema direita, cujo objetivo era destruir tudo. Ele, no fundo, os incentivou. Na residência do ex-ministro da Justiça foi encontrado um projeto de decreto que ele assinaria, determinado a intervenção do Tribunal Superior Eleitoral e anulando o resultado das eleições. Torres encontra-se com a sua prisão decretada pelo STF.
Portanto, o senador Rodrigo Pacheco está tentando reduzir a importância da polarização entre Lula e Bolsonaro, mas esquece um lado legal e democrático ocupado por Lula e um plano subversivo liderado por Bolsonaro. Pacheco se confundiu também na entrevista sobre a questão do Banco Central, afirmando que não há clima no Congresso para mudar a autonomia do BC. Mas Lula não propôs isso. Ele discorda da permanência de Roberto Campos Neto no cargo, pessoa que evidentemente ele não suporta. Rodrigo Pacheco falhou na entrevista.
ROMBO – Na página semanal que mantém no O Globo e na Folha de S. Paulo, Elio Gaspari, neste domingo, relacionou desastres de empresários candidatos aos postos de mais ricos do Brasil, e traçou um perfil muito realista dos projetos audaciosos e até faraônicos que acontecem em decorrência da ação dos que disputam o primeiro lugar entre os possuidores de milhões de dólares.
Gaspari tem toda razão e destaca os fracassos empresariais. Deve ser acrescentado também os reflexos dessas ações aos cofres públicos. O caso da Americanas, mais recentes, com um passivo de R$ 40 bilhões e de pagamento impossível, encobre obrigações legais não cumpridas, caso de dívidas com o INSS, FGTS e provavelmente com o PIS também. Há um rastro atrás do fracasso de bilionários relacionados às dívidas públicas que acabam não sendo tratadas como prioritárias.