Vera Rosa
Estadão
Uma bronca dada em dirigentes do PT pelo WhatsApp provocou mal-estar no comitê de Luiz Inácio Lula da Silva. Na mensagem, o deputado Emídio de Souza, coordenador da campanha de Fernando Haddad ao Palácio dos Bandeirantes, definiu a tentativa de culpar o ex-prefeito pelo desempenho de Lula em São Paulo como “miopia pura ou coisa pior”.
Em tom de desabafo, Emídio citou “o velho e nefasto ‘fogo amigo’” para pedir que a lavação de roupa suja não fosse feita “no meio da guerra”. O pito de 25 linhas foi enviado há duas semanas no grupo da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), a mesma de Lula e Haddad, majoritária no partido.
ALVO DA LABAREDAS – Haddad começou a ser alvo das labaredas vindas da equipe de Lula logo após o primeiro turno. Ao contrário do que indicavam as pesquisas, ele foi para a segunda rodada da disputa atrás do ex-ministro Tarcísio de Freitas, que tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Além disso, Lula não obteve o resultado esperado em São Paulo, “a joia da coroa”. No maior colégio eleitoral do País, que reproduz o confronto nacional entre o PT e o PL, Bolsonaro saiu na frente.
Ao passar a descompostura nos companheiros, Emídio argumentou que a campanha de Lula e Haddad precisaria ser “totalmente colada”, como a de Tarcísio e Bolsonaro, e cobrou unidade. A estratégia está sendo posta em prática agora, mas o “fogo amigo” ainda não foi sepultado de vez.
OCUPAR AS RUAS – “Fiz um apelo à responsabilidade. Melhorou”, disse Emídio à coluna. “É preciso ter juízo.” Pelo WhatsApp, ele orientou os dirigentes a “ocupar as ruas” para virar o jogo.
“O bolsonarismo que vamos derrotar não pode ter no governo de SP um quartel de onde vão se reorganizar para nos atacar”, escreveu o deputado. “O neotucanismo de Doria e Rodrigo não pode sobreviver debaixo da batina de Tarcísio em SP. Parece óbvio, mas tem gente graúda entre nós que parece negar o óbvio”, completou, após mencionar o ex-governador João Doria e seu sucessor, Rodrigo Garcia.
Cristão novo no PSDB, Garcia protagonizou a maior derrota do partido, que comandava São Paulo há 28 anos e hoje vive sua pior crise. Logo em seguida, o governador se aliou a Bolsonaro e a Tarcísio.
SEM RECEPTIIVIDADE – “Buscamos várias vezes aproximação para tentar estabelecer uma estratégia que levasse PT e PSDB para o segundo turno e não tivemos êxito”, afirmou Haddad em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira, 17.
Nos bastidores, porém, a campanha de Lula diz que a tática do ex-prefeito, ao atacar Garcia e poupar Tarcísio, acabou antecipando o voto útil contra o PT. “Eu fui obrigado a me defender e essa defesa soou mal, mas ningúem se lembrou de perguntar por que eles partiram para a agressão daquela maneira”, insistiu Haddad.
“Eu creio que havia ali um combinado (com Bolsonaro), que se revelou mais plausível pela pressa com que o que sobrou do PSDB aderiu à campanha do Tarcísio.”
NOTA DA REDAÇÃO DO SITE – Então, fica combinado assim: se Lula perder esta eleição, a culpa será do Haddad, que é uma espécie de mordomo em roteiro policial.