Rafael Moraes Moura
O Globo
A ex-presidente Dilma Rousseff foi tratada como celebridade nesta segunda-feira (2), durante as cerimônias de posse dos novos ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, no Palácio do Planalto. No evento de Padilha, Dilma foi ovacionada pelo público que lotou o Planalto.
— A sua presença aqui neste ato, como a senhora foi recebida, é uma reparação histórica das injustiças que a senhora sofreu — disse Padilha.
DESTINO INCERTO – Até agora, porém, o destino da ex-presidente no governo Lula é incerto. Integrantes do PT relataram à equipe da coluna que se cogitou inicialmente colocar Dilma para chefiar a embaixada do Brasil em Portugal, ou na Argentina, mas a própria ex-presidente já descartou essas alternativas.
Um dos motivos para isso, que nenhum petista gosta de admitir publicamente, é o fato de que ninguém no governo quer comprar o desgaste de ter que fazer passar no Senado uma indicação de Dilma para alguma embaixada.
Essas indicações têm que ser aprovadas pelos senadores, e uma discussão sobre Dilma no Senado inevitavelmente se transformaria num cabo de guerra entre oposição e governo no Congresso.
SENADO BOLSONARISTA – A partir de fevereiro deste ano, quando assume a nova legislatura, o governo Lula não terá vida fácil no Senado, onde o PL de Jair Bolsonaro terá a maior bancada, com 14 parlamentares. Precisa, portanto, escolher bem suas brigas. Pelo mesmo motivo, prevenir disputas políticas desnecessárias, muitos petistas consideram que o ideal seria a ex-presidente ocupar algum cargo de representação no exterior.
“Não tem nada para a Dilma fazer por aqui no Brasil”, resumiu um influente parlamentar petista.
É por isso que, no entorno de Dilma, há quem defenda a ida da ex-presidente para alguma estatal de peso ou até mesmo para algum órgão multilateral – cargos para os quais não sejam necessários nem sabatina e nem aval do Senado.
LEGADO RUIM – A herança desastrosa dos governos de Dilma Rousseff na economia foi alvo de disputa na campanha eleitoral, com adversários políticos tentando colar esse passado à imagem de Lula, enquanto o candidato petista tentava contornar a situação.
Lula foi bem sucedido e conseguiu o suficiente para não afetar a sua eleição, mas assume um governo recheado de dilmistas no primeiro escalão.
Pelo jeito, só não sabe ainda o que fazer com a própria Dilma.