Denise Rothenburg
A intenção do futuro governo em pedir quatro anos de duração dos programas sociais extrateto, e a inclusão de vários benefícios e não apenas do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família), é justamente para garantir uma margem de negociação à PEC da Transição ou Fura-teto. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sabe que o Congresso, mais conservador do que em seu primeiro governo, não lhe dará tudo que deseja. Por isso, é preciso pedir o céu para obter um meio-termo. Por exemplo, dois anos de validade do novo Bolsa Família fora do teto.
Agora, começam as negociações diretas, que certamente passarão pela formação do novo governo. Até aqui, o que se ouve na equipe de transição é que Lula ainda não está seguro sobre anúncio de nomes esta semana, embora haja uma torcida interna para que ele oficialize logo alguns ministros. O presidente, porém, tem dito que esses próximos dias serão mais para ouvir do que para anunciar.
Aposta I
Desde que Fernando Haddad foi escolhido para representar o presidente Lula no almoço da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os políticos têm certeza de que o ex-prefeito de São Paulo será o ministro da Fazenda. Só tem um probleminha: se a economia ficar “PT demais”, o governo terá problemas com o mercado e com os empresários. Haddad, porém, é um curinga e pode ir para qualquer pasta.
Aposta II
A visão dos petistas é de que Haddad pode terminar sendo bem recebido mais à frente, conforme ocorreu com Antônio Palocci, o ministro da Fazenda, em 2003. Vale lembrar que, naquele ano, Palocci foi um dos ministros que seguiu a receita da responsabilidade fiscal e de equilíbrio das contas. Agora, não dá é para terminar como Palocci — preso e delator na Lava-Jato.
Enquanto isso, na oposição…
A PEC da Transição não é um teste apenas para o futuro governo. Vale também para a futura oposição. Até aqui, Jair Bolsonaro (PL) não assumiu a liderança desse grupo e, se não o fizer, outro nome ocupará esse espaço.
… a hora é de definir o tamanho
Com Bolsonaro em silêncio e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) passeando no Catar, a avaliação de muitos é a de que o bolsonarismo tende a perder a força que obteve
nas urnas.
Valdemar na área…/ O PL de Valdemar Costa Neto tem um jantar marcado para hoje, a fim de avaliar o clima da bancada em relação à PEC da Transição ou Fura-Teto. Também vai aproveitar para explicar a um pedaço do partido que lutará até o fim na Justiça para anular a multa de R$ 22 milhões, imposta pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, por causa da ação do partido pedindo investigação das urnas.
Por que apoiar Lira já?/ O PT não quer ser o último a apoiar a reeleição do presidente da Câmara. Quer ser partícipe da vitória para não melindrar o alagoano. Arthur Lira é de cumprir todos os acordos que faz e tem uma outra característica: quando percebe que alguém lhe puxa o tapete, a vingança vem cedo ou tarde.
Detalhe/ Para retomar o nome Bolsa Família, o atual governo terá que aprovar no Plenário. E os apoiadores de Bolsonaro vão apresentar emendas para tentar manter o nome Auxílio Brasil.
Torcida/ O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin faz das meias sua marca registrada. Depois das bolinhas, foi a vez de um par todo listrado de verde, amarelo, azul e branco, para ver o Brasil vencer a Suíça. Ele postou a foto em seu Twitter (foto). Agora, que o Brasil ganhou, a meia listrada tende a virar uniforme para o jogo das oitavas.