Pedro do Coutto
O ex-ministro Anderson Torres, que primeiro disse que teve o celular clonado e depois o perdeu na cidade de Orlando, Flórida, onde se encontrava também o ex-presidente Jair Bolsonaro, pode se tornar uma peça chave na trama da invasão de Brasília e na tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro. Talvez por temer que os diálogos travados através de seu celular perdido possam ter sido transcritos pela Polícia Federal ou pelo FBI nos Estados Unidos, Anderson Torres vem adiando sucessivamente o seu depoimento à investigação aberta pelo ministro Alexandre de Moraes.
Agora, o depoimento que estava marcado para terça-feira, foi adiado para o dia 2 de fevereiro com a concordância do presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Tudo leva a crer que o enigma do telefone do também ex-secretário de Segurança de Brasília seja um instrumento chave para iluminar as sombras que existem sobre as depredações que tinham como objetivo fomentar uma anarquia destrutiva e com isso levar a uma intervenção por parte do governo.
FÉRIAS – Uma intervenção prevista no anteprojeto de um decreto que Anderson Torres mantinha guardado em sua residência em Brasília. O também ex-secretário de Segurança do governo Ibaneis Rocha praticamente não assumiu o cargo, pois viajou de férias logo após ser nomeado, deixando orientações sinuosas ao seu substituto.
O telefone celular vincula-se sempre a uma rede de WiFi ou 4G. Logo, as mensagens são colhidas pela rede e o problema é encontrar o caminho para a sua tradução. É possível que tendo concordado com o adiamento para o dia 2 de fevereiro, Alexandre de Moraes já se encontre de posse dessa tradução, o que tornará o posicionamento de Torres extremamente difícil. Mas não só para ele, como também para os seus interlocutores. O fato é que Anderson Torres é uma peça chave na trama armada que transportou a fúria para a Praça dos Três Poderes.
GUERRA IDEOLÓGICA – Se as mensagens forem traduzidas e publicadas, muitas pessoas ficarão sem argumentos para se isentar de culpa, concretamente, pela ocorrência de episódios cujo desfecho seria imprevisível se prosseguisse por mais tempo, inclusive arriscando vidas humanas que os manifestantes encontrassem pelo caminho. Torres, no pedido de adiamento, disse que respeita as urnas e não faz guerra ideológica. Matéria de Mariana Muniz e Daniel Gullino, O Globo, focaliza o assunto.
Não faz guerra ideológica, mas se ausentou, antecipando suas férias para não estar presente no dia em que a violência se desencadeou. O que resta ficar claro é o posicionamento do ex-presidente Bolsonaro sobre a questão. Quanto a isso, as mensagens do celular de Anderson Torres poderão revelar.
MOEDA COMUM – Na viagem de Lula à Argentina divulgou-se a hipótese de se estabelecer uma moeda comum entre os dois países para efeito comercial. Essa possibilidade é difícil, caso não seja impossível. O mercado internacional é redigido pelo valor do dólar. No Brasil, um dólar equivale a cinco reais. Na Argentina, um dólar equivale a 184 pesos. Portanto, em relação à moeda padrão internacional, o real vale 35 vezes mais do que o peso argentino.
Pode haver uma conta comum, mas paridade monetária não há condição. Basta ver os números que falam por si. São coisas que acontecem. Ninguém esperava, por exemplo, uma explosão como no caso das Americanas, mas ela se configurou na prática.