Clarissa Oliveira / Veja

Jair Bolsonaro sempre gostou de se vender como um homem simples, que passava seus fins de semana usando chinelo e camisetas de times de futebol. Ele nunca escondeu o gosto por seus passeios de moto e jet-ski. Mas, em geral, gostava de se mostrar como um cara comum. Aquele cara que é chegado num frango com farofa. Que não hesita em trocar restaurantes sofisticados pelo buffet da esquina em viagens internacionais.
Longe das redes sociais, o consumo das residências oficiais passa uma mensagem diferente. Visitas frequentes a um mercado gourmet de Brasília, com direito a picanha, camarão e bacalhau, segundo notas fiscais referentes ao uso de cartões corporativos da Presidência, obtidas pela agência Fiquem Sabendo e analisadas pelo jornal O Estado de S. Paulo.
CONSUMO CORRIQUEIRO – É claro que parte das atribuições de um presidente da República é recepcionar eventos oficiais. Jantares e coquetéis, por exemplo, são parte do pacote e justificam, muitas vezes, cardápios mais sofisticados. Mas o que sugerem as reportagens é um consumo corriqueiro de itens de primeira linha nas residências oficiais.
Não se trata de apontar o dedo apenas para Bolsonaro. Entra presidente, sai presidente, e logo surge alguma reportagem para mostrar gastos questionáveis nas residências oficiais e órgãos públicos. Já se falou sobre a compra de bebidas caras e itens de alta gastronomia para abastecer as residências oficiais nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Teve até licitação cancelada pelo governo Michel Temer diante da repercussão negativa provocada pelo cardápio sofisticado dos aviões oficiais. Só para citar alguns exemplos.
CULTURA DE DESCASO – São sintomas de uma cultura inteira de descaso com o dinheiro público e, principalmente, com a realidade vivida pela imensa maioria dos brasileiros. Em algumas ocasiões, esse descaso chega a ultrapassar todos os limites de razoabilidade.
Quem não se lembra da festança organizada pela Aneel para comemorar seus 21 anos, a um custo de mais de R$ 180 mil? Ao revelar a gastança no fim de 2018, a Coluna do Estadão mostrou imagens de uma moça recepcionando convidados, em um vestido dourado cuja saia servia para pendurar dezenas de taças de champanhe.
São todos sinais de que, na sua essência, a cultura da farra com dinheiro público continua impregnada na máquina estatal. Em maior ou menor grau, faz-se pouco caso do uso do caixa governamental bancar o luxo de quem está a serviço da população. Pouco importa qual presidente gastou mais com o que não deveria. É, sem exceção, um convite mais que explícito à indignação.
NOTA DA REDAÇÃO – Nesse item, Lula da Silva também age como Bolsonaro. Criou um emprego público de alto salário para empregar a amante Rosemary Noronha, com cartão corporativo, e ainda mandou empregar a filha dela e alugar um escritório luxuoso em São Paulo, contratar motorista para servi-la com carro blindado, além de assessores, secretárias, contínuos etc. E ainda a levava no Aerolula nas viagens internacionais, para que a generosa Rosemary pudesse receber diárias em dólar. Portanto, Lula e Bolsonaro são iguais, mas cada um com seu estilo, é claro.