Constança Rezende
Folha
Moraes se recusou a dar declarações à Folha
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), não quis se manifestar sobre a declaração do tenente-coronel Mauro Cid de que o magistrado teria se encontrado com Jair Bolsonaro (PL). Moraes foi questionado pela Folha para comentar o assunto, nesta sexta-feira (22), por meio da assessoria de imprensa do STF. Disse que não se manifestaria.
Em áudio revelado pela revista Veja, Cid citou o suposto encontro sem dar maiores detalhes. Ele também afirmou que a Polícia Federal tem uma narrativa pronta nas investigações sobre o ex-presidente.
DESCONCERTADOS – “Eu falei daquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles ficaram desconcertados, desconcertados. Eu falei: Quer que eu fale?”, diz o trecho da gravação.
O ex-ajudante de Bolsonaro também se disse pressionado nos depoimentos e fez críticas a Moraes, que homologou sua delação premiada.
O ministro expediu novo mandado de prisão preventiva contra Cid nesta sexta. A medida ocorreu após o vazamento dos áudios. De acordo com o gabinete de Moraes, o militar foi preso por “descumprimento das medidas cautelares e por obstrução à Justiça”.
JUSTIFICATIVA DA PRISÃO– Segundo integrantes da PF, o tenente-coronel feriu o acordo de confidencialidade da colaboração premiada, o que foi considerado como o descumprimento de uma medida cautelar. Ele fez isso, avaliam investigadores, para tentar atrapalhar a apuração, sendo suspeito de obstrução de Justiça.
O Supremo também informou que está sob análise a homologação da delação feita pelo militar, já que os termos não foram tratados pela corte, e sim pelos investigadores.
Mauro Cid passou por exame de corpo de delito no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal e foi encaminhado à Polícia do Exército.
NARRATIVA DELES – Nos áudios revelados por Veja, Cid afirma que os policiais só queriam “confirmar a narrativa deles” e a todo momento davam a entender que ele poderia perder os benefícios da delação premiada a depender do que contasse.
O militar também teria feito duras críticas a Moraes. “O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, afirma.
E prossegue: “O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta, acho que essa é que é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só tá esperando passar um tempo. O momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, o PGR [procurador-geral da República] acata, aceita e ele prende todo mundo”.
UM MINUTO POR FAVOR: As denúncias de Mauro Cid desmoralizaram o pau-de-arara do século 21 que o Supremo utiliza. Notem que a repórter da Folha não comprou apressadamente a versão de Moraes de obstrução da Justiça e descumprimento de medida cautelar. A exclusividade servil da Organização Globo faz muito mal ao país. Em fevereiro, Moraes derrubou as autuações da Receita à Globo por sonegação no caso dos “empregados pessoas jurídicas”. O fato concreto é que aumenta cada vez mais a percepção de que o inquérito do fim do mundo é ditatorial e a Polícia Federal virou um joguete nas mãos de Moraes.