Rafael Moraes Moura
O Globo
Os atos de depredação da sede dos três Poderes em Brasília, no último domingo (8), deixaram indignados oficiais do Alto Comando do Exército, que atribuem as invasões a “vândalos infiltrados” na manifestação antidemocrática que espalhou terror por Brasília.
Para os oficiais, houve omissão e negligência de autoridades, tanto do governo distrital quanto do federal, em lidar com o problema desde o início, quando milhares de apoiadores de Jair Bolsonaro se aglomeravam acampados na porta dos quartéis, protestando contra o resultado das urnas.
TRÊS CULPADOS – Em conversas reservadas, oficiais apontam três responsáveis pela sucessão de erros: o governo do Distrito Federal, a Polícia Militar do DF e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, o que não exime a equipe do governo Lula de não ter se preparado para uma possível invasão de extremistas bolsonaristas.
O temor com a repetição em Brasília de um episódio como a invasão do Capitólio já pairava sobre a capital desde a vitória do petista nas urnas – ou até mesmo antes.
Em julho de 2022, o ministro Edson Fachin, do STF, já havia alertado em palestra nos Estados Unidos que o Brasil poderia enfrentar um episódio ainda mais grave que a invasão do Congresso americano. Tratava-se, portanto, de uma tragédia esperada, anunciada e convocada nas redes sociais.
DIZEM OS MILITARES – Na avaliação de integrantes das Forças Armadas, o GDF, a PM e o GSI subestimaram os riscos de que o protesto antidemocrático convocado para a capital federal saísse de controle e ganhasse proporções trágicas, com a invasão e depredação do Congresso, do STF e do Palácio do Planalto.
“A evolução dos fatos apontava, há tempo, para a necessidade da extinção dos acampamentos na frente dos quartéis. Era uma medida que poderia ter sido tomada imediatamente após a assunção do novo governo”, afirmou um general ouvido reservadamente pela equipe da coluna.
Integrantes das Forças Armadas avaliam que o episódio não compromete o apoio dos militares ao ministro da Defesa, José Múcio, mas serve para colocar em xeque sua atuação no enfrentamento da crise.
MÚCIO CONTEMPORIZOU – Múcio chegou a dizer que tinha parentes e amigos acampados na frente dos quartéis e considerou que os protestos eram “da democracia”.
“Aquelas manifestações no acampamento, e eu digo com muita autoridade porque tenho familiares e amigos lá, é uma manifestação da democracia”, afirmou Múcio a jornalistas, na semana passada.
O titular da Defesa vem sendo alvo de fritura de petistas, que avaliam que o ministro fez “corpo mole” para remover os extremistas da porta dos quartéis.