Silvio Cascione
Estadão
Na semana passada, Lula disse que nunca teve uma chance tão boa de ganhar uma eleição em primeiro turno, e que seus apoiadores não deveriam ter vergonha de admitir isso. Foi a primeira vez desde o início da campanha que o ex-presidente falou abertamente sobre buscar a vitória já no início de outubro.
Derrotar Bolsonaro no primeiro turno sempre foi o sonho dos petistas. Mas esse objetivo foi mantido com discrição por muito tempo para evitar o clima de “já ganhou” na campanha, e também não constranger candidatos como Simone Tebet, do MDB, de quem Lula espera receber o apoio em um eventual segundo turno.
COMBINAÇÃO IMPROVÁVEL – As chances de uma vitória de Lula em primeiro turno, porém, continuam baixas. Ela depende de uma combinação bastante improvável de dois fatores nessas próximas três semanas.
Lula precisa, em primeiro lugar, que eleitores de Ciro Gomes, Simone Tebet e outros candidatos decidam apoiá-lo já no primeiro turno.
Sabendo que a maioria dos eleitores desses candidatos rejeita Bolsonaro, Lula tem aumentado o apelo ao “voto útil”, antecipando o segundo turno. Lula, de fato, já conquistou uma parte do antigo eleitorado de Ciro, que não consegue repetir nas pesquisas o desempenho que teve nas últimas eleições (12,47% dos votos totais).
BOLSONARO FRACO? – Em segundo lugar, Lula precisa que Bolsonaro se enfraqueça daqui até o primeiro turno – e não há sinais de que isso esteja ocorrendo. É verdade que os comícios de 7 de Setembro não elevaram significativamente as intenções de voto no presidente.
Mas também é verdade que a base bolsonarista tem ficado cada vez mais convicta de sua decisão, e que a melhora da economia tem lentamente favorecido o atual mandatário, que cresce pouco a pouco nas pesquisas.
Se Bolsonaro não se enfraquecer em setembro, Lula precisará de uma quantidade muito grande de “voto útil” para vencer no primeiro turno – uma verdadeira onda, com Ciro e Simone caindo significativamente na reta final. Não é uma missão impossível. Mas, provavelmente, ainda teremos sete semanas de campanha, tempo para que Bolsonaro continue competitivo e com chances de virada.