O presidente Lula, que gosta de brincar com fogo, já queimou a largada em 2024 ao trazer de volta às manchetes a refinaria Abreu e Lima, que carrega dois fantasmas e uma advertência: o maior escândalo de corrupção da história, as ligações perigosas de Lula e do PT no contexto externo e o risco de andar na contramão, quando o mundo todo e o Brasil em particular caminham em direção à energia verde. Energia verde com refinaria?
Não satisfeito, Lula sobrepôs um erro ao outro: a aposta na Abreu e Lima e a implicância com os EUA. Segundo ele, seus governos fizeram tudo certinho e a Lava Jato foi culpa da “mancomunação” do Departamento de Justiça americano com “juízes e procuradores”, porque os EUA nunca aceitaram que o Brasil tivesse uma Petrobras. Delírio? Autoengano? Ou me engana que eu gosto?
SÍMBOLO ERRADO – A Abreu e Lima entrou para a história como símbolo da Lava Jato e de falta de planejamento, apostas equivocadas, desperdício de dinheiro público e corrupção. Já começou errada. Lula interveio no plano de investimento da Petrobras, e assim surgiu o projeto, em 2005, com previsão de US$ 2,5 bilhões. Dez anos depois, quando a obra foi abandonada pela metade, os custos atingiam US$ 20 bilhões.
A Abreu e Lima, idealizada em parceria com a PDVSA venezuelana, também traz de volta as imagens e “mancomunações” de Lula com Hugo Chávez, mentor intelectual e primeiro executor do desmanche da Venezuela rumo a uma ditadura.
Depois de receber Nicolás Maduro com honras e salamaleques em 2023, Lula puxa o fantasma de Chávez para a cena logo no comecinho de 2024.
ENQUANTO ISSO… – E o anúncio de que a Petrobras vai injetar R$ 8 bilhões na conclusão da obra veio exatamente quando Marina Silva, do Meio Ambiente, se esgoelava em Davos para convencer o mundo de que o Brasil, anfitrião da COP-30, em 2025, lidera a transição da energia fóssil para a energia verde. Investir em refinaria de diesel enquanto, no mundo todo, caminhões e ônibus movidos a combustão estão num caminho sem volta?
A Petrobras, epicentro da Lava Jato, embolou seus dirigentes com empreiteiras, partidos aliados ao PT e Planalto, mas a corrupção é só uma parte, e a menor, da sua tragédia naqueles tempos. Os maiores prejuízos foram com a má gestão e a ingerência política – e populista – nos preços dos combustíveis. Pagar mais caro e vender mais barato não dá certo.
Em seu primeiro giro interno de 2024, Lula acertou com gestos, programas e reaproximação das Forças Armadas, que estão em fase de, digamos, saneamento. Mas o que fica pairando são os fantasmas da Abreu e Lima, os elogios à China e os ataques aos EUA. O que o Brasil e o próprio Lula ganham com isso?