Carlos Newton
Antes da eleição, durante toda a campanha, cansamos de advertir aqui na Tribuna sobre a armadilha que se montava para o eleitorado brasileiro, devido ao ativismo político do Supremo. É compreensível que os ministros do STF não engolissem o presidente Jair Bolsonaro, por seu jeito estúpido de ser, como diria Roberto Carlos. Porém, não era admissível que inventassem um motivo para devolver os direitos políticos a um criminoso vulgar como Lula da Silva, a pretexto de que seria o único capaz de derrotar Bolsonaro.
Mas o Supremo foi em frente. O relator Edson Fachin – ligado ao PT e nomeado por Dilma Rousseff, por quem até fez campanha – conseguiu o apoio necessário para aprovar, na undécima hora, um recurso de Lula que já havia sido rejeitado unanimemente por 10 outros magistrados – os juízes Sérgio Moro e Grabriela Hardt, os três desembargadores do Tribunal Regional Federal-4 e os cinco ministros da turma do Superior Tribunal de Justiça.
QUE SURPRESA! – De repente, Fachin aceitou a tese de que havia erro de endereço. Embora se tratasse de corrupção da Lava Jato, que era julgada sempre em Curitiba, o argumento era de que, no caso de Lula o CEP poderia estar errado, pois ele morava em Brasília. Piada do Ano, é claro.
Mas sete outros ministros aplaudiram essa fantasiosa tese, já rechaçada unanimemente por 10 magistrados, repita-se, ad nauseam. E assim Lula recuperou os direitos políticos e sua ficha imunda foi “lavada e enxaguada com detergência jurídica”, como diria o prefeito Odorico Paraguaçu, grande criação de Dias Gomes.
Com isso, armou-se a armadilha política contra o povo brasileiro, com a polarização artificial entre Lula e Bolsonaro, dois políticos que claramente não mereciam nem merecem ser novamente eleitos para a Presidência da República.
CABO ALCELMO – Agora, os brasileiros vão escolher se votam no cabo Ancelmo que deu certo, infiltrado pela indústria Villares e pelo general Golbery do Coutto e Silva no movimento sindical, para desestabilizar Brizola e impedir que chegasse à Presidência, ou se reelegem “um mau militar”, no dizer do general Ernesto Geisel, pois Bolsonaro confirmou a definição e se comportou na chefia do governo como um recruta zero.
Já Lula é um herói da resistência. Seu passado de agente do regime militar, ligado diretamente ao delegado federal Romeu Tuma, está relatado em vários livros de historiadores e jornalistas e do próprio filho de Tuma, também delegado federal. Mas parece que nada pega nele.
Lula é corrupto de carteirinha, ficou rico na política sem trabalhar, mas seus eleitores não ligam. Tampouco se importam com o fato de Lula ter criado um cargo federal para ter a amante a seu lado e viajar com ela, consideram isso normal.
MALUCO BELEZA – Assim, apesar dos vexaminosos desvios de caráter e do comportamento semelhante ao líder russo Boris Yeltsin, Lula se tornou o preferido por nove em cada dez artistas, igual ao sabonete Lever, sendo exaltado também por juristas, empresários, políticos adversários e tudo o mais.
Seu adversário Bolsonaro é uma espécie de maluco beleza ou metamorfose ambulante, capaz de soltar uma boçalidade por minuto, julga ser engraçado ou espirituoso, porém é apenas patético, capaz de enfrentar uma epidemia se comportando como garoto-propaganda de um remédio ineficaz.
Bem, como escolher o menos pior deles? “Dou um pelo outro e não quer troco” – diz o velho ditado, que se adapta à perfeição, porque nem Lula nem Bolsonaro merecem os votos que pretendem receber.
P.S. – Em meio a essa confusão, surge uma certeza auspiciosa. No domingo, o Brasil começa a ser livrar desses dois enganadores. Primeiro, lá se vai um deles, curtir a amargura da derrota, que o perseguirá até o fim de seus dias, porque nada apaga a decepção política, o derrotado se sente eternamente traído, a depressão age como madrasta.
Mas o vencedor pensará (?) que é o máximo, tudo será festa, até que assume em 1º de janeiro e percebe que está segurando um tremendo rojão, que pode explodir a qualquer momento, e seu prazo de validade como governante é 31/12/26, quando o Brasil enfim estará livre dele. E assim la nave va, cada vez mais fellinianamente.