Carlos Newton
No ato da diplomação no TSE, nesta segunda-feira, o presidente eleito Lula da Silva exibiu o momento difícil que está passando. Ficou muito emocionado e chorou, teve até de enxugar as lágrimas, porque não consegue compreender direito as coisas que acontecem com ele. Apesar de ter comandado o maior esquema de corrupção do mundo, até hoje não entende sua prisão. No seu raciocínio de poucas letras, ele não teria feito nada demais, apenas repetiu o que os outros políticos fazem…
Embora tivesse frigobar, televisão e banheiro privativo na suíte que ocupava na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, podendo receber várias visitas diárias, inclusive íntimas, Lula acha que sofreu demais na cadeia, sem ter feito nada de errado, na sua concepção. E tudo isso veio à toa ao fazer o discurso de agradecimento.
É MERECEDOR – Lula realmente merece a solidariedade dos brasileiros. É um homem rico, com grande patrimônio financeiro, não somente em aplicações, mas também em outros bens, como veículos e imóveis, embora tenha perdido o sítio em Atibaia e o tríplex do Guarujá.
Além disso, há problemas para registrar o apartamento vizinho à sua cobertura em São Bernardo do Campo, tendo até derrubado a parede que os dividia, fato que causou surpresa à Polícia Federal quando fez busca e apreensão no imóvel, nos velhos tempos da Lava Jato.
Mas o dinheiro não é tudo. Lula se sente cansado de guerra, igual à Teresa Batista de Jorge Amado. Já está quase chegando aos 80 anos, ninguém é de ferro, merecia ter uma vida menos atribulada.
SAÚDE PROBLEMÁTICA – Lula está bastante acima do peso, sua saúde inspira cuidados, acaba de fazer uma cirurgia para retirar uma leucoplasia na laringe, geralmente causada por bebidas alcoólicas, tabagismo e refluxo gástrico. Em tradução simultânea, não pode beber, tampouco fumar aquele charuto cubano que tanto gosta. Além disso, não deve falar demais e tem restrições alimentares, para não provocar refluxo, e precisa dormir sempre com travesseiro alto, mantendo a cabeça elevada, a velhice realmente não perdoa.
Esta segunda-feira foi um dia importante e estressante para Lula. Por isso, acabou se emocionando demais e o discurso mostrou sua fragilidade pessoal. Além do pronunciamento protocolar e obrigatório, teve de gastar a voz cumprimentando autoridades e áulicos que vivem em seu entorno.
Ao final, ao invés de voltar ao hotel para o merecido descanso, teve de seguir em frente. Sua esposa, a incansável Janja, havia programado uma festa na mansão do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o badalado Kakay, que é o preferido dos políticos e governantes corruptos.
GRANDE SACRIFÍCIO – Para o idoso e cansado Lula, foi um grande sacrifício, mas vale tudo para agradar à mulher, quando o amor fala mais alto. E lá foi ele para passar horas gastando a voz, sem poder beber aquele Ballantine’s 21 anos nem fumar os charutos que enfumaçaram o belíssimo varandão e os jardins da mansão.
É o que eu digo: Lula merece a solidariedade de todos nós. Às vezes, ele sonha com uma cadeira de balanço, um chinelo velho, mas tem de vestir o terno e calçar o sapato social de cromo, porque governar é preciso.
Além disso, casado com uma mulher jovem e festeira, que adora conviver com artistas e celebridades, o veterano Lula não tem mais como usufruir seus momentos de descanso, porque o espetáculo não pode parar e o Palácio do Alvorada em breve estará transformando por Janja numa festa móvel, como a Paris de Ernest Hemingway. É por isso que eu insisto – o novo presidente está precisando da solidariedade de todos nós.
P.S. – O mais incrível nesta festa na mansão do advogado mais lobista de Brasília foi a presença de políticos notoriamente corruptos, ao lado de ministros do Supremo, como Ricardo Lewandowski, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Gilmar Mendes. Responsáveis diretos pela libertação de Lula e pela anulação das condenações contra ele, os ministros fizeram questão de ir festejar o ex-presidiário, numa confraternização que desmoraliza inteiramente as instituições brasileiras, algo jamais visto em nenhum país onde magistrados se deem ao respeito. E por isso la nave va, cada vez mais fellinianamente