Elio Gaspari
O Globo/Folha
O futuro governo enviou ao Congresso uma proposta de emenda constitucional que mexe com as contas nacionais aumentando as despesas em quase R$ 200 bilhões. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não foi ouvido. Seu mandato vai até dezembro de 2024, e ele anunciou que pretende cumpri-lo.
Pior: se ele quisesse ser ouvido, não saberia com quem falar. Nesse caso a soberba não é apenas um erro político, é também falta de educação. A ideia de ignorar o Banco Central na condução do Estado é tóxica.
AVES RARAS – Nos dias em que a formação de um governo é puro encantamento, a carta de Pedro Malan, Arminio Fraga e Edmar Bacha pedindo a Lula que tenha juízo é uma iniciativa singular. Nenhum dos três precisa de nada e nenhum dos três quer nada.
Faz tempo, quando um sujeito disse a um presidente eleito que ele teria dificuldade para formar o governo por causa das violações de direitos humanos, foi ouvido com atenção. Depois, o presidente comentou com um assessor que o sujeito parecia maluco.
E está em curso a emocionante brincadeira das especulações ministeriais. Nos últimos 30 anos vigorou uma lei. Dois meses antes da posse, o presidente eleito sabe no máximo um terço de seu ministério, com os nomes colocados no cargo de sua preferência. No segundo terço, sabe os nomes, mas não sabe os cargos. No terço restante, acaba nomeando pessoas que não haviam entrado nas listas de favoritos.
ERRANDO O NOME – Já houve caso de presidente que seis meses antes da posse achava que a principal pasta do seu governo seria a da Agricultura. Semanas antes da posse, recebeu o escolhido e errou o seu nome.
Pelo andar da carruagem, Lula criará o Ministério dos Povos Originários e para ele irá Sonia Guajajara, nascida Sonia de Souza Silva Santos, no Maranhão, há 48 anos. Ela foi eleita deputada federal por São Paulo, com 157 mil votos.
Em 2018 ela foi candidata a vice-presidente na chapa de Guilherme Boulos, do PSOL. Se essa escolha se confirmar, a indicação matará três caçadores com uma só cajadada: é mulher, está no PSOL e milita na causa dos indígenas. Guajajara é o nome de seu povo. A revista Time listou-a entre as cem pessoas mais influentes do mundo.
REALIDADE PRÓPRIA – O doutor Guido Mantega parece estar vivendo numa realidade paralela. Deixou a equipe de colaboradores de Geraldo Alckmin, dizendo que o fazia porque se viu atacado por “adversários, interessados em tumultuar a transição e criar dificuldades para o novo governo”.
Falso. Até o momento em que ele deu uma entrevista revelando que escrevera à secretária do Tesouro americano torpedeando a candidatura do economista Ilan Goldfajn à presidência do BID, ninguém havia discutido sua posição.
Pela demora de seu pedido para sair, fica a impressão de que foi aconselhado a fazê-lo. E novo presidente do BID deverá ser escolhido neste domingo (20).