Weslley Galzo
Estadão
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, deu por encerrada a fiscalização do Ministério da Defesa no sistema eletrônico de votação. Ele indicou que o relatório apresentado quarta-feira pelos militares não terá desdobramento e o resultado da eleição será respeitado.
Questionado por jornalistas sobre as providências que adotaria a partir do pedido das Forças Armadas de instauração de investigação urgente sobre as urnas, Moraes afirmou: “Esse assunto já se encerrou faz tempo”.
NOTA DE AGRADECIMENTO – Logo após a divulgação do relatório das Forças Armadas na noite de ontem, Moraes emitiu uma nota em que agradeceu o envio do documento destacando que o trabalho dos militares não aponta qualquer fraude ocorrida na eleição.
Mas nesta quinta-feira, dia 10, o Ministério da Defesa divulgou uma segunda nota dizendo que a fiscalização realizada “não excluiu a possibilidade da existência de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022″.
“Por isso, o Ministério da Defesa solicitou ao TSE, com urgência, a realização de uma investigação técnica sobre o ocorrido na compilação do código-fonte e de uma análise minuciosa dos códigos que efetivamente foram executados nas urnas eletrônicas, criando-se, para esses fins, uma comissão específica de técnicos renomados da sociedade e de técnicos representantes das entidades fiscalizadoras”, diz a nota da Defesa.
VERSÃO DO TSE – Para o TSE, no entanto, como não foi encontrada nenhuma irregularidade e o mesmo relatório confirma que os votos registrados nos boletins impressos pelas urnas coincidiram com os votos totalizados, não há que se falar em questionamento do resultado.
A nota da Defesa foi divulgada após uma onda de reações negativas de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais. Usuários do Twitter disseram ter se sentido traídos pelas Forças Armadas por causa do resultado da fiscalização e da contagem paralela de votos.
Os militares fizeram diversas investidas na Justiça Eleitoral para que pudessem realizar a contagem paralela e instituir um teste de segurança das urnas com uso das digitais dos eleitores, como forma de evitar possíveis fraudes ou a instalação de um “código malicioso” nos dispositivos que teria a capacidade de alterar o resultado das eleições.
“CÓDIGO MALICIOSO” – O Estadão apurou que o uso da expressão “código malicioso” pelo ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, foi interpretado no TSE como uma forma de Nogueira atender de alguma forma o presidente Jair Bolsonaro, que contava com esse relatório como a última cartada para contestar o resultado da eleição. Ainda não há confirmação se o presidente fará isso.
Segundo apurou o Estadão, o relatório da Defesa também causou mal estar no núcleo político do candidato vencedor das eleições deste, o presidente eleito Lula da Silva (PT).
Em visita à sede do TSE na tarde ontem, Lula considerou ser um “absurdo” a forma como as Forças Armadas foram utilizadas politicamente na cruzada de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas.
LULA PROVOCADOR – Na manhã desta quinta-feira, dia 10, Lula fez discurso em Brasília, no escritório do CCBB onde se faz a transição de governo, e criticou a conduta do presidente e disse que Bolsonaro humilhou as Forças Armadas no caso da fiscalização das urnas.
“Ontem aconteceu uma coisa humilhante e deplorável para as nossas Forças Armadas. Um presidente da República, que é o chefe supremo das Forças Armadas, não tem o direito de envolver as Forças Armadas a fazer uma comissão para investigar urnas eletrônicas, coisas que são da sociedade civil, dos partidos políticos e do Congresso Nacional”, declarou Lula, sem saber que a equipe fiscalizatória das Forças Armadas foi formada para atender a um convite do então presidente do TSE, Luís Roberto Barroso.
NOTA DA REDAÇÃO DO SITE – Lula vinha muito bem, ao ficar calado e deixar a vida seguir, como recomendava João Saldanha. Mas nesta quinta-feira, resolveu fazer um discurso em Brasília, e o monte de besteiras que falou não está no gibi. Além de tentar intrigar Bolsonaro e as Forças Armadas, Lula conseguiu derrubar a Bolsa de Valores e provocar a maior alta do dólar desse março de 2020. Ou seja, perdeu uma belíssima oportunidade de ficar em silêncio, cuidando das cachorras.