ESTÁ LIBERADO TER ESPERANÇA NO GOVERNO, PORÉM, É PROIBIDO SENTIR MAUS PRESSÁGIOS

Eduardo Affonso
O Globo

As esquerdas brasileiras que queriam o fim da Ditadura Militar fizeram uso de músicas de cantores afamados para desfazer essa condição governamental. Será que não está na hora da direita usar essas próprias músicas para desarmar esse estado de desgovernança em que caiu o País?

Já se pode comemorar muita coisa, de domingo para cá. Marina Silva cuidando do Meio Ambiente, em vez de Salles e sua boiada, por exemplo. Ou a esfuziante Margareth Menezes na gestão da Cultura, até outro dia a cargo de um álgido Mário Frias.

Foi bonito ver Raoni subindo a rampa e “o povo” — ali representado pelo venerando cacique, por uma criança de periferia, uma catadora de recicláveis, um operário, um professor, uma cozinheira, um artesão, um ativista anticapacitista — fazendo a passagem da faixa no lugar do capitão fujão. Sem falar na irresistível vira-lata Rê (difícil supor que ela seja tratada, na intimidade, pelo seu nome panfletário: “Senta, Resistência”, “Não pula, Resistência”, “No sofá, não, Resistência!”).

Charge do Miguel Paiva (Brasil 247)

OUTROS FATORES – Uma economia verde e sustentável, como proposta por Alckmin, é auspiciosa. Assim como a luta contra o preconceito, a exclusão e a invisibilidade social (“Vocês [todos] existem e são valiosos para nós”, nas palavras do ministro dos Direitos Humanos).

Ter esperança nas boas intenções está liberado — afinal, o governo já começou com força total. Entretanto, se o assunto forem os maus presságios, a coisa muda de figura: é cedo demais para crítica, “espera o governo começar!”.

Este governo deu a largada em dezembro, com o atentado à Lei das Estatais para permitir o aparelhamento do BNDES, da Petrobras e sabe-se lá do que mais. Inventou-se a quarentena pro forma (poderia ser de 40 minutos: não faria diferença, e ainda haveria um afago na etimologia).

DISFARÇADA NOSTALGIA – Qualquer reparo que se bote no negacionismo econômico, na prestidigitação fiscal, na alteração do Marco Legal do Saneamento, no boicote à reforma da Previdência ou nas restrições à liberdade de expressão tem sido encarado como prematuro e ressentido — uma mal disfarçada nostalgia do recém-finado fascismo Porcina (aquele que foi sem nunca ter sido).

O país não precisa de uma Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia ou de uma Secretaria de Políticas Digitais para coibir desinformação e discurso de ódio. Desinformação se combate com informação; para todas as outras coisas, existem os Códigos Civil e Penal — e a Constituição. Lembrando Vincenzo Gioberti: “Os maiores inimigos da liberdade não são os que a oprimem, mas os que a deturpam”.

Não há como comparar Nísia Trindade a Eduardo Pazuello, Silvio Almeida a Damares Alves, Camilo Santana a Ricardo Vélez, Abraham Weintraub ou Milton Ribeiro. Nem Simone Tebet a quem quer que seja do “antigo regime”.

E OS OUTROS? – Porém — ah, porém! — existem Rui Costa, investigado por fraude na compra de respiradores e financiamento ilegal de campanha; Carlos Lupi, que só sairia do governo Dilma “abatido à bala”, mas economizou munição e caiu por denúncias de corrupção; Waldez Góes e as acusações de desvio de recursos públicos; Daniela do Waguinho e a camaradagem com a milícia.

O governo Lula precisa dar certo, para que nunca mais haja outro Bolsonaro. E, se der mesmo certo, é porque terá passado ao largo do receituário petista — o que nos provará a desnecessidade de outro governo do PT.

Não, nunca é cedo para criticar. Se tiver de esperar o fiasco consumado, aí será tarde demais.

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Um dia acordei para ‘jornalizar’ a vida com os meus leitores. Nesta época trabalhava no extinto jornal Tribuna do Ceará, de propriedade do saudoso empresário José Afonso Sancho. Daí me veio a ideia de criar o meu próprio site. O ponta pé inicial se deu com a criação do Caririnews, daí resolvi abolir este nome e torna-lo mais regional, foi então que surgiu O site “Caririeisso” e, desde lá, já se vão duas décadas. Bom saber que mesmo trabalhando para jornais famosos na época, não largava de lado o meu próprio meio de comunicação. Porém, em setembro de 2017 resolvi me dedicar apenas ao site “Caririeisso”, deixando de lado o jornal Diário do Nordeste, onde há sete anos escrevia uma coluna social…

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