Malu Gaspar
O Globo e AFP
A notícia de que uma carga de 40 kg de explosivos foi desarmada pela Polícia Militar do Distrito Federal na noite deste domingo (25), na cidade satélite do Gama, colocou em alerta a equipe de segurança de Luiz Inácio Lula da Silva. O principal temor entre os aliados de Lula é de que o plano de realizar um atentado terrorista no aeroporto de Brasília, elaborado por um empresário preso neste final de semana, tenha envolvido mais pessoas do que o já descoberto e seja mais complexo do que se sabe até agora.
Além de o empresário George Washington dos Santos ter declarado que arquitetou o atentado junto com outras pessoas – incluindo manifestantes concentrados em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, o fato de que explosivos são de uso exclusivo das Forças Armadas reforçou as suspeitas.
DUAS REUNIÕES – Segundo auxiliares do presidente eleito, o futuro ministro da Defesa de Lula, José Múcio, terá hoje uma conversa com o atual ministro, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, para tentar entender o que se sabe a respeito desse material e como ele foi desviado.
Nesta terça-feira, Múcio, o próximo diretor da Polícia Federal, Andrei Passos, e o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, terão uma reunião também com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, para reavaliar os preparativos para a posse.
Um dos momentos da cerimônia que mais preocupa a equipe de segurança é o trajeto que Lula fará em carro aberto, tradicional em posses presidenciais. Durante as discussões para o evento, o presidente eleito manifestou a intenção de modificar o trajeto para passar mais perto da aglomeração popular.
COMPLACÊNCIA – Apesar de não admitirem publicamente, os auxiliares de Lula se preocupam com o que, nos bastidores, classificaram que houve complacência da Polícia Federal e das forças de segurança do DF em relação aos manifestantes que promoveram quebra-quebra e incêndios de veículos no dia 12, quando houve a diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Naquele dia, os bolsonaristas criaram um clima de terror no centro de Brasília, ateando fogo em carros e em cinco ônibus, inclusive em uma área próxima ao hotel onde o petista está hospedado durante a transição.
Mesmo assim, no final de semana seguinte alguns ônibus com manifestantes passaram pela Esplanada dos ministérios sem serem barrados ou verificados.
ACAMPAMENTO NO QG – Desde então, a equipe de Lula vem insistindo para que a polícia de Ibaneis contenha e de preferência desmobilize o acampamento bolsonarista que já dura semanas em frente do QG do Exército, em Brasília.
No depoimento que deu após ser preso, o bolsonarista não só confessou que o atentado foi planejado por um grupo de manifestantes, como também afirmou que, durante os tumultos do último dia 12, teria ouvido de policiais e bombeiros que eles não iriam coibir a manifestação.
Diz um trecho da declaração: “No dia 12/12/2022, houve o protesto contra a prisão do índio, onde eu conversei com os PMs e bombeiros responsáveis por conter os manifestantes que me disseram que não iriam coibir a destruição e o vandalismo desde que os envolvidos não agredisse os policiais. Ali ficou claro para mim que a PM e o Bombeiro estavam do lado do presidente e que em breve seria decretada a intervenção”.
ESTADO DE SÍTIO – O empresário foi preso num apartamento alugado no bairro do Sudoeste, em Brasília, onde guardava um arsenal contendo fuzil, espingardas, munições, cinco artefatos explosivos e roupas camufladas.
Ao confessar ter planejado explodir uma bomba no aeroporto, ele afirmou que o objetivo era “dar início ao caos para provocar a decretação de estado de sítio” no país.