
Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura
O Globo

Mauro Cid já depôs onze vezes e foi preso duas vezes
Aliados de Jair Bolsonaro avaliam pedir a realização de diligências e a anulação do acordo de colaboração premiada firmado entre a Polícia Federal e o tenente-coronel Mauro Cid, após a revista “Veja” publicar mensagens que sugerem que o ex-ajudante de ordens mentiu no depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e usou, sim, um perfil no Instagram para se comunicar com um aliado do ex-presidente sobre o conteúdo de sua delação premiada.
Mas, embora não admita publicamente, o entorno de Bolsonaro não acredita que qualquer iniciativa nesse sentido tenha qualquer chance de êxito – pelo menos a curto prazo.
FUTURA NULIDADE – A aposta, no entanto, é a de que o pedido sirva para “envergonhar o processo” e estabelecer bases para alguma futura nulidade no âmbito das investigações da intentona golpista que culminou com a invasão e a depredação da sede dos três poderes, em Brasília.
“Numa turma que tem o Alexandre de Moraes, o ex-advogado do Lula (Cristiano Zanin Martins) e um ex-ministro do governo Lula (o ex-ministro da Justiça Flávio Dino), nós sabemos que não temos a menor chance”, diz um interlocutor de Bolsonaro envolvido nas discussões nos bastidores, em referência a três dos cinco magistrados que integram a Primeira Turma do STF. O colegiado vai decidir se absolve ou condena o ex-presidente até setembro deste ano.
A estratégia, portanto, mira não o presente, mas o médio e longo prazo, quando os aliados de Bolsonaro avaliam que o jogo pode virar a favor do ex-presidente com uma mudança da conjuntura política que incluiria uma eventual vitória de um candidato de direita nas próximas eleições e uma nova correlação de forças no STF, com a chegada de ministros indicados pelo próximo chefe do Executivo.
JOGO É SUJO – Nas mensagens reveladas pela revista “Veja”, Cid reclama da atuação de Alexandre de Moraes, diz que o “jogo é sujo” e acusa o ministro de já ter “sentença pronta” para condenar a ele, Bolsonaro, e os ex-ministros Walter Braga Netto e Augusto Heleno.
“Uma hora lá na frente isso tem que cair”, diz esse interlocutor de Bolsonaro, apostando na “teoria Zanin” para insistir numa tese que leve ao esvaziamento ou até à anulação das investigações que miram o ex-presidente e outras 31 pessoas.
A “teoria Zanin”, como foi batizada pelos próprios defensores, consiste em copiar a estratégia adotada pelo ex-advogado do presidente Lula e hoje ministro do Supremo contra a Operação Lava-Jato, de contestar até o final a investigação, as provas colhidas e a condução do julgamento no STF.
APOIO DE FACHIN – Lula acumulou uma série de reveses na Justiça, até o relator da Lava-Jato no STF, ministro Edson Fachin, decidir em março de 2021 que a 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) não era competente para cuidar das investigações contra o ex-presidente da República
Integrantes da cúpula da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República (PGR), no entanto, avaliam que uma eventual anulação do acordo de colaboração premiada de Mauro Cid não comprometeria as provas colhidas na investigação, mas ameaça a manutenção dos benefícios acertados com o delator.
“Mantém o processo íntegro, mas perde os benefícios da colaboração”, diz uma fonte da PF que acompanha de perto os desdobramentos do caso.
UM MINUTO POR FAVOR: – A notícia tem procedência, devido à fragilidade da acusação, que é inteiramente montada nos onze depoimentos de Mauro Cid, com base em “fulano teria”, “consta que”, “há informações de que”, “comenta-se que” e outras ilações. Como disse o ministro Luiz Fux, semana passada, se houve nove depoimentos, isso significa que não houve nenhum. E depois disso, Cid depôs mais duas vezes, para compor uma delação à la carte, digamos assim, até a acusação se sentir satisfeita para iniciar o julgamento. O fato concreto é que a delação de Cid está totalmente desmoralizada, chega a ser vergonhoso o esforço do ministro Alexandre de Moraes para manter de pé o castelo de cartas montado com a “compreensão” do tenente-coronel, que não tem a menor vocação militar, chega a chorar e até desmaia ao receber ordem de prisão. Com militares desse tipo, o Brasil não consegue enfrentar nem mesmo a Costa Rica, que não tem Exército.
