Hélio Schwartsman
Folha
Com mais de 400 integrantes e aumentando, a equipe de transição de governo de Luiz Inácio Lula da Silva parece mais um recorte de coluna social do que um grupo de trabalho. Desde que não tenham se esquecido de incluir algumas pessoas que vão efetivamente reunir informações para depois repassá-las aos futuros ministros, facilitando os primeiros passos da futura administração, não penso que seja um mal.
Eu diria até que, depois de quatro anos sob Bolsonaro, o país precisava de algo assim, um espaço simbólico no qual indivíduos com as mais diferentes orientações políticas e ideológicas possam se reunir civilizadamente para traçar diagnósticos e debater políticas públicas.
EXEMPLO DE FROTA – O presidente eleito também está usando as nomeações para sinalizar que, de sua parte, não haverá disposições revanchistas.
Prova-o o convite a Alexandre Frota para que se incorporasse à equipe. Frota, que acabou desistindo de assumir o posto, é um ex-bolsonarista que se elegera deputado como um dos mais estridentes críticos do PT e de Lula.
É claro que nem tudo é só festa. Nomeações de antigos desafetos inevitavelmente provocam ciumeiras nas fileiras petistas. A vantagem do centralismo democrático que Lula exerce sobre o partido é que esses movimentos potencialmente desestabilizadores nunca vão muito longe. Ninguém ousa bater de frente com o chefe.
HAVERÁ FRUSTRAÇÕES – O problema com o clima ultra-agregador da transição é que ele não pode durar para sempre. Há um número máximo de semanas que o presidente eleito pode usar para ganhar tempo enquanto vai montando uma equipe, não de transição, mas de governo.
Muito em breve, Lula terá de tomar decisões sobre ministérios e políticas que deixarão mais gente frustrada do que satisfeita.
Nada muito surpreendente. Governar é basicamente arbitrar vencedores e perdedores e encimar as questões do dia a dia da administração com alguns grandes gestos simbólicos.