Carlos Newton
A imprensa mudou muito e ficou sensivelmente pior e menos confiável. Há algumas décadas, nenhum jornalista publicava informações oriundas de “fontes do setor tal”, de “pessoas ligadas a Fulano”, de “interlocutores de Beltrano” ou de “aliados de Sicrano”. Os chefes de reportagem não admitiam esse tipo de matéria, ficavam pensando que o jornalista estava aceitando propinas…
Agora, porém, essas informações estão liberadas e poluem o noticiário, são até consideradas “furos de reportagem”, com o jornalista mostrando que tem fontes garantidas, vejam que absurdo.
EXEMPLO TOFFOLI – Um excelente exemplo é o ministro Dias Tofolli que no último dia 6 assinou uma decisão estapafúrdia, anulando todas as delações da Odebrecht, feitas voluntariamente por dirigentes da empresa e 78 executivos.
Uma delas, do patriarca Emilio Odebrecht, ficou famosa pelo bom-humor do depoente, que revelou sua amizade com o ex- presidente Lula, detalhando propinas e caixa 2 do PT, coisa pequena, de R$ 200 milhões, uma festa.
Como a decisão jurídica mostrou ser verdadeiramente escatológica, um monte de asneiras, com base em informações erradas, mandando abrir inquérito contra quem já tinha sido investigado, realmente vexatória, Toffoli virou um fantasma e sumiu do mapa, até reaparecer sutilmente na sexta-feira, dia 15.
De repente, não mais que de repente, diria Vinicius de Moraes. “interlocutores” anônimos do ministro foram ouvidos pelos principais jornais, todos contando a mesma conversa fiada, com o ectoplasma de Toffoli dizendo não ver espaço para rever a decisão sobre provas da Odebrecht, mesmo diante dos novos dados do Ministério da Justiça que destroem sua tese.
ADAPTAÇÃO DA NARRATIVA – Para tentar livrar Toffoli do vexame e devolver-lhe alguma dignidade, as pessoas “ligadas” ao ministro tentaram adaptar a decisão furada dele, desta vez dizendo que houve “manipulação das provas sem respeitar a cadeia de custódia”.
Os jornalistas não têm a menor ideia do que seja a “cadeia de custódia”, parece ser alguma coisa importante, e tocam para frente as desculpas esfarrapadas de Toffoli. Compram a ideia e explicam que “a cooperação com o exterior é importante para se manter a chamada cadeia custódia das provas que se refere à manutenção da história cronológica dos elementos utilizados como prova de crime.
Vejam que primor de informação: “Toffoli tem dito nos bastidores que a equipe da Lava Jato utilizou dados obtidos de outros países antes de ser finalizado o processo de atuação conjunta internacional”.
LAVA JATO VIVE – Conforme assinalamos aqui na Tribuna, a patética decisão de Toffoli teve efeito contrário e está revivendo a Lava Jato. O repertório de falsas denúncias contra a Lava Jato está mais do que esgotado, e as pessoas prestam mais atenção às respostas de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, com argumentos convincentes.
O mais impressionante é que, passadas duas semanas, até agora nenhum ministro do Supremo — seja ativo ou inativo — comentou a decisão fajuta.
Fica claro que eles fizeram um pacto de silêncio e deixaram Toffoli abandonado na arena. Já que ele não consultou ninguém antes de fazer a besteira, que se vire sozinho agora.
UM MINUTO POR FAVOR: O mais incrível é que o Supremo pode vir a apoiar as maluquices de Toffoli, que serão analisadas pela Segunda Turma e depois pelo plenário conjunto. Na forma da lei, a decisão de Toffoli é insustentável. Mas o que significa a lei para esses ministros e ministras que se vestem de preto e nem reagem mais quando alguém diz que são as pessoas mais odiadas dos país? Essa é a pergunta que não quer calar.