Guilherme Amado e Bruna Lima
Metrópoles
A despeito das variações positivas ou pequenos crescimentos registrados pelas pesquisas, não existe, neste momento, uma onda de crescimento de Jair Bolsonaro. A análise é do especialista romeno Andrei Roman, CEO do AtlasIntel, instituto de pesquisas que mais acertou resultados nas eleições presidenciais americanas em 2020 e mais perto chegou nos resultados apurados nas eleições de capitais brasileiras naquele ano.
Segundo Roman, o atual presidente tem só 25% de probabilidade de vencer a disputa. Lula teria 70%. E um terceiro nome, apenas 5%.
DISTÂNCIA DIMINUI – A pesquisa eleitoral do Instituto Atlas é a que aponta a menor distância entre Lula e Bolsonaro — de 8,7 pontos percentuais — dentre todos os levantamentos divulgados. Em entrevista à coluna, Roman explica o porquê da diferença.
O CEO fala também sobre os métodos usados na pesquisa, que, diferentemente da maioria, é feita pela tela do celular, sem interação humana ou contato por telefone, e analisa, baseado no levantamento, o cenário político do Brasil e as chances de Lula e Bolsonaro nestas eleições.
Existe uma onda bolsonarista, uma onda de crescimento de Jair Bolsonaro, agora?
Não me parece. Existe, talvez, uma tendência de melhora na margem do Bolsonaro, mas não diria que é uma onda. O crescimento é bem lento, gradual, e em cima de três pontos específicos: a melhora econômica, com a diminuição dos preços inflacionados, o impacto do aumento do Auxílio do Brasil na população mais pobre, e um certo entusiasmo com a saída do Brasil da pandemia. Há também um clima de campanha, em que alguns dos eleitores de Bolsonaro em 2018, que não se sentiam mais confortáveis de votar nele, acabam voltando a ele por não existir nenhuma opção de candidato viável. E existe também o impacto dos palanques estaduais, onde Bolsonaro é apoiado por governadores com menos rejeição do que os candidatos de esquerda. Ele sempre esteve entre 33%, 34%, e hoje está em 38% das intenções de voto. Isso não é uma onda, leio isso como um fortalecimento de imagem.
Vocês mostram, há bastante tempo, uma diferença entre Bolsonaro e Lula no primeiro turno menor do que aponta a maioria das pesquisas. A que você atribui essa diferença nos parâmetros de vocês em relação aos outros?
São duas questões. A primeira é a ponderação pela renda. Se o Datafolha ponderasse por renda com os mesmos parâmetros que o Atlas faz, com a análise pela PNAD [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, que investiga diversas características socioeconômicas da sociedade], mais da metade da diferença entre as duas pesquisas desapareceria. A segunda é que a interação humana afeta o viés da pesquisa. Algumas pessoas declaram pessoalmente opções diferentes das que elas declarariam na frente de um computador, sob o contexto de pleno anonimato.
Como funciona o método de pesquisa de vocês?
O método Atlas funciona como uma pesquisa telefônica, mas em vez de você receber uma ligação telefônica para responder, você vai ver na tela do seu celular ou no computador um convite para responder ao levantamento. Para garantir que a pesquisa seja respondida uma vez só pela mesma pessoa, cada questionário tem um identificador único. Então ele chega com esse identificador para o nosso sistema, que analisa se é um número válido. Existe também uma verificação de IP [endereço exclusivo que cada dispositivo tem na internet], usuários que responderam ao levantamento nos últimos 60 dias têm a pesquisa bloqueada. Sobre a amostragem, como existem grupos que são mais receptivos e estão mais na internet do que outros, vamos atrás especificamente dos grupos sub-representados.
Muitos institutos não usam a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), pois temem que os indicadores de renda estejam desatualizados com a grande variação de renda da economia brasileira…
Eu confio mais na PNAD para me dizer qual é a distribuição de renda da população do que no Datafolha. A PNAD tem uma amostra de centenas de milhares de domicílios, é uma pesquisa muito confiável a partir de uma metodologia científica altamente precisa e que basicamente serve para a criação de todas as políticas públicas em relação à pobreza no Brasil. Existe sim uma flutuação, mas ainda assim é uma âncora.
Dá para a gente fazer algum tipo de previsão sobre primeiro turno e segundo turno da presidencial?
Dá para pensar a eleição em termos probabilísticos. Aqui as pesquisas mostram que a probabilidade de o Lula ganhar, hoje, é maior do que a probabilidade de o Bolsonaro ganhar. Elas não dizem com certeza absoluta que o Bolsonaro não pode vencer a eleição; dizem, simplesmente, que existe uma diferença bastante consolidada.
Você tem um número para essa probabilidade?
Nos últimos 18 meses, a gente sempre trabalha com a probabilidade de 70% de chance de Lula vencer, 25% de Bolsonaro vencer e 5% de algum cenário alternativo. Se as próximas pesquisas mostrarem Bolsonaro empatando numericamente com Lula no primeiro turno, a chance de Lula ganhar no segundo seria em torno de 60% devido à transferência de votos de Ciro Gomes e Simone Tebet. Mas, se Bolsonaro passar Lula em dois pontos no primeiro turno, a gente consideraria que as chances seriam iguais para cada um dos dois vencer no segundo turno.
Há um receio de que, por nosso último censo ter muitos anos, isso possa influenciar na calibragem dos critérios das pesquisas. Você acha que é um temor devido?
É completamente indevido, pois temos a PNAD contínua que nos dá todos os dados que precisamos. Não é o censo a origem dos dados.
NOTA DA REDAÇÃO DO SITE – Interessante entrevista. O método de fazer a pesquisa é muito criativo, porque não há interação com o entrevistador. Pena que a entrevista não abordou os aspectos principais desta eleição, como a alta rejeição de Bolsonaro e Lula, assim como o número expressivo de indecisos. Vamos aguardar mais um pouco.