Ricardo Rangel
Veja
Como se sabe, Lula indicou Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal e Paulo Gonet para a Procuradoria-Geral da República. Dino é o ministro mais político, mais combativo e mais lacrador do governo. É de se esperar que desempenhe papel parecido no Supremo.
Tende a ser uma notícia do tipo ganha-ganha para o PT: de um lado, ganha um juiz que deve votar invariavelmente com a esquerda; do outro, abre-se uma vaga no governo pela qual o partido pode lutar.
QUEM PERDE – Para o bolsonarismo, a notícia é do tipo perde-perde: o movimento perde o ministro que ama odiar e ganha um juiz que votará invariavelmente contra o movimento. Perdem também os democratas que sonham com um Supremo profissional, que fique longe da política. Com Dino lá, o Supremo vai se politizar ainda mais (se é que isso é possível).
Quanto a Gonet, ele é “conservador raiz, cristão, sua atuação no STF nos processos da Lava-Jato foi impecável”. A frase é de alguém acima de qualquer suspeita: Bia Kicis, chefe da tropa de choque bolsonarista no Congresso.
Na Comissão da Verdade, Gonet ficou contra as vítimas da ditadura e a favor do establishment que as torturou e matou. Também é contra o direito ao aborto e a criminalização da homofobia e da transfobia. Liberais autênticos e progressistas lamentam. O bolsonarismo agradece.
FIDELIDADE A LULA – O presidente Lula, evidentemente, não está nem aí para a politização do Supremo nem para o fato de seu procurador-geral da República ter ideias opostas às das forças políticas que o elegeram e apoiam.
Só o que lhe interessa é que seus indicados para Supremo e Procuradoria lhe tenham fidelidade absoluta. O que, pelo jeito, já está garantido.
Pelo menos por enquanto.
UM MINUTO POR FAVOR: Sem novidade, tudo como antes no quartel de Abrantes. Lula, Dino e Gonet são três perdidos numa política suja, como diria o genial darmaturgo Plínio Marcos.