Celso Serra
O dia 21 de abril marca dois acontecimentos lúgubres para o Brasil: o enforcamento e esquartejamento de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, ocorrido em 1792 e a mudança da capital do país para Brasília, levada a efeito em 1960.
Fato antecedente a Tiradentes foi o Terremoto de 1755 ocorrido no início de novembro de 1755, que resultou na destruição quase completa da cidade de Lisboa e locais próximos. Foi seguido por um maremoto e múltiplos incêndios, fazendo mais de 10 mil mortos.
O QUINTO DA DERRAMA – O Marquês do Pombal, administrador de Portugal, para recolher recursos necessários a reconstrução de Lisboa e demais locais atingidos, na região mineira produtora de ouro, no ano de 1765, instituiu na colônia do Brasil a “derrama”, com a finalidade de obrigar os mineradores a pagarem os impostos atrasados.
Esse imposto equivalia a 20% (vinte por cento) do ouro extraído; por isso foi chamado de o “quinto”.
Houve reação. Os mineiros produtores de ouro não gostavam de pagar o imposto e estavam expressivamente atrasados no cumprimento da obrigação tributária (o “quinto”), o que resultou na cobrança impositiva por parte de Portugal e na reação dos brasileiros, a Inconfidência Mineira.
TIRADENTES – Tiradentes assumiu a liderança do movimento, foi preso, julgado e condenado em 1792, tendo, contra ele, sido proferida a seguinte sentença:
“Portanto condenam ao réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, alferes que foi da tropa paga da capitania de Minas, a que com baraço e pregão, seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde em lugar mais público dela, será pregada, em um poste alto até que o tempo a consuma; e o seu corpo será dividido em quatro Quartos, e pregado em postes pelo caminho de Minas, no sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve suas infames práticas, e os mais, nos sítios de maiores povoações, até que o tempo também os consuma; Declaram o réu infame, e seus filhos e netos, tendo os seus bens aplicados para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica, será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique.”
E assim foi feito.
SEGUNDA AGRESSÃO – O dia 21 de abril também marca a data do ato de agressão mais perverso que já se cometeu, em toda a história nacional, contra uma grande cidade brasileira: a expropriação da capital do país, tomada do Rio de Janeiro e transferida para Brasília.
A data deveria ser um dia de luto fechado, pois até abril de 1960, nosso Brasil possuía o que poderia haver de mais próximo, no mundo inteiro, a uma capital perfeita. A partir dessa data o Brasil perdeu-a para sempre.
Até hoje não podemos entender por qual razão num país abençoado por possuir um prodígio divino como o Rio de Janeiro, uma das cidades que a natureza e o gênio humano colocaram entre as mais iluminadas do planeta, física e culturalmente, o homem decidiu que ela não servia mais para ser sua capital.
NENHUMA VANTAGEM – Apenas a ignorância forçou o Brasil a sofrer essa perda. Nenhuma vantagem trazida por Brasília compensou, nem de longe, o desmanche do patrimônio incomparável que a nação havia construído no Rio – e que hoje, com o progresso ocorrido no mundo nos últimos setenta anos, sabe-se lá em que alturas poderia estar. No entanto, foi desviado o dinheiro que deveria ser aplicado em educação e cultura do povo brasileiro para a construção e manutenção de Brasília.
Em 1956 a China e a Coréia do Sul, para ficarmos em apenas dois exemplos, estavam muito mais atrasados do que o Brasil. Investiram em educação, o denominado capital humano. Diante disso, hoje o Brasil importa tecnologia desses dois países, face à decisão de construir, sem a menor necessidade, uma cidade para ser a nova capital do país. Investiu em ferro e cimento em vez de investir no ser humano.
Ao cassar do Rio de Janeiro a condição de capital, foi assassinada uma parte da alma do Brasil.
ESTRAGO SEM CONSERTO – A perda não foi apenas geográfica, pois, a verdade é que não foi o Rio de Janeiro que perdeu o direito de ser a capital do Brasil. Foi o Brasil que perdeu o direito de ter sua capital no Rio de Janeiro. Esse estrago não tem conserto.
A mudança da capital para Brasília foi uma operação que conseguiu apenas somar vícios e subtrair virtudes. Passamos a ter a certeza histórica que quando se colocam longe da vigilância do povo o governo nacional, verbas e obras, o resultado é a corrosão do Estado.
Juscelino jamais consultou o povo por meio de um plebiscito se concordava com a mudança da capital.
PAGANDO DEMAIS – A cruz tributária dos brasileiros tem sido pesada. Na era brasiliense, a carga tributária total saltou de 20% para 40% do PIB. Mas a máquina federal continua perto da lanterna do mundo (128º lugar) no ranking de eficiência mundial em gastos públicos, segundo pesquisa do World Economic Forum.
Aqui, Brasília responde por tabela, pelo fato de ser uma cidade que reúne, sobretudo, os gastadores oficiais e onde os contribuintes são desproporcionalmente mal representados.
Para finalizar, vale transcrever o que JK declarou sobre Brasília: “Estou com uma sensação de que Brasília não é mais minha. Não é como uma filha que se casa. É diferente. É pior.” Em tradução direta: prostituiu-se. Hoje, pelo que tomamos ciência pela mídia escrita, falada e televisada, Brasília é o maior centro mundial de corrupção impune.