Carlos Newton
Como diria o fabuloso compositor carioca Johnny Alf, seria ilusão à toa julgar que o último debate eleitoral pudesse alterar a ordem das coisas. A meu ver, logo em seguida ao resultado do primeiro turno já veio ocorrendo a rearrumação do quadro eleitoral, com Jair Bolsonaro (PL) em viés de alta e Lula da Silva (PT), com tendência de baixa.
Foi exatamente esta a mensagem que surgiu das urnas no primeiro turno. O que faltava identificar era a intensidade das curvas de alta e de baixa, para saber até onde Bolsonaro e Lula convergiriam.
PESQUISAS INÚTEIS – As análises têm de ser feitas sem levar em conta as pesquisas, que estão completamente desmoralizadas, são amostragens ridículas que não servem de indicador, especialmente porque há um número enorme de institutos que trabalham à la carte, como se fossem restaurantes de luxo, cobrando caro para produzir pratos políticos difíceis de engolir.
Assim, hoje há pesquisas para todos os gostos, com margens de erros elásticas, o cliente encomenda, mas não tem direito de reclamar, porque os institutos logo inventam um complicado efeito de camadas sociais que se cruzam e se sobrepõem, para justificar seus números estapafúrdios.
É como se a ciência da estatística fosse impiedosamente torturada até revelar os resultados que as pesquisas eleitorais almejam, vejam a que ponto chegamos.
DEBATE DA GLOBO – Nesta sexta-feira, já começou tarde, quase às 22 horas, como é hábito na emissora global, que se julga mais importante do que a a própria República.
E transcorreu como se esperava – um debate chatíssimo e repetitivo, que começou com discussões inócuas sobre salário mínimo, aposentadoria, horas extras etc., com os dois candidatos trocando ofensas , numa disputa renhida para saber quem é o maior mentiroso e quem é o verdadeiro pai dos pobres.
Detalhe exótico: ao final do primeiro bloco, o apresentador William Bonner tomou a palavra para esclarecer que no mês de setembro, ao entrevistar Lula, tinha declarado que Lula nada devia à Justiça, mas o fez por causa de decisões do Supremo. Ou seja, “reinocentou” Lula também no debate, vejam a que ponto chega a desfaçatez.
MAIS CHATICE – Nada mudou no segundo bloco, no qual os candidatos voltaram a falar de pobreza, fome, Auxílio Brasil, aposentadorias, salário mínimo, embora o tema fosse “Respeito à Constituição”.
Depois, trocaram ofensas sobre censura exercida pelo Tribunal Superior Eleitoral, falando sobre a Jovem Pan, marco regulador da mídia, movimentos sem terra e sem teto, previdência, prisão de Roberto Jefferson e blá-blá-blá.
A terceira parte também foi insuportável, abordando pandemia, farmácia popular, médicos cubanos, desarmamento, violência, Marcola e… Roberto Jefferson. E o bloco terminou com uma frase de efeito, com Bolsonaro dizendo a Lula: “Não sou ladrão!”
LULA BOBEOU – No quarto bloco, a mesma bobajada, discutindo-se criação de empregos, estratégias de governo, relacionamento com prefeitos e governadores, tudo em meio a uma sucessão de estatísticas e números que ninguém acabava entendendo.
Notava-se que Lula estava ficando prolixo e ele acabou dando uma tremenda bobeada, repetindo o erro cometido no debate anterior, na Band, ao se enrolar e consumir seu tempo inutilmente.
Com isso, deixou quase 2 minutos e meio para Bolsonaro falar à vontade e se sair melhor.
MAIS UM ERRO – No penúltimo bloco, mais um erro de Lula, que escolheu o tema Meio Ambiente, que lhe tinha sido adverso no debate da Band. Ao começar a responder, Bolsonaro até ironizou o adversário e exibiu a mesma planilha do confronto anterior, mostrando que o desmatamento e as queimadas foram maiores no governo de Lula do que na gestão atual.
Lula ficou atônito e contestou os números, mas Bolsonaro já tinha explicado que eram oficiais, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Vieram as considerações finais e Lula parecia cansado, enquanto Bolsonaro se mostrava mais confiante e desafiador. Mas já era quase meia-noite, ninguém aguentava mais.
P.S. – A conclusão é de que Bolsonaro se saiu um pouco melhor, mas houve um empate técnico no debate, na margem de erro tipo bolero, dois pra lá, dois pra cá. Ou seja, o debate não vai render votos a nenhum dos dois candidatos, porque nesta eleição não há lógica, apenas fanatismo. Aliás, o resultado da eleição até já existe, está escrito nas estrelas e não mudará até a apuração. (C.N.)