Bruno Boghossian
Folha
A campanha de Jair Bolsonaro quebrou uma barreira e conseguiu abrir uma vantagem considerável sobre Lula entre os evangélicos mais pobres. Em meados do primeiro turno, o presidente era o favorito dos fiéis de renda média e alta, mas enfrentava uma disputa parelha na base da pirâmide. Agora, ele supera o petista por 27 pontos entre os eleitores desse grupo religioso que recebem até dois salários mínimos por mês.
Bolsonaro tem 61% das intenções de voto entre os evangélicos de baixa renda, contra 34% de Lula. As variações detectadas pelo Datafolha sugerem que o presidente vem ganhando musculatura nessa faixa, tendo ampliado em nove pontos a diferença sobre o petista na última semana.
ESTRATÉGIAS – O comitê de Lula acreditava que poderia segurar uma adesão em massa dos evangélicos de baixa renda a Bolsonaro com uma campanha baseada na experiência de políticas sociais vinculadas ao PT. O presidente, no entanto, foi capaz de atravessar questões econômicas e atrair esse eleitor pela fé e por temas morais.
Os números indicam que a aposta no desgaste de Lula pelo viés conservador ganhou peso no comportamento desses fiéis. Hoje, 59% dos evangélicos mais pobres se recusam a votar em Lula. Entre os eleitores de baixa renda de maneira geral, esse índice é de apenas 38%.
A situação de Bolsonaro é praticamente inversa: o presidente tem rejeição de 57% no conjunto de eleitores mais pobres, mas a taxa cai a 33% entre os evangélicos de baixa renda.
PAU NA MÁQUINA – Além dos apelos morais, a máquina do governo também facilita o caminho de Bolsonaro nesse grupo. Segundo o Datafolha, o Auxílio Brasil chega aos domicílios de metade dos evangélicos mais pobres.
O presidente ainda tem uma força maior no segmento evangélico de renda média e alta (73% das intenções de voto), mas os dados mostram que o fator religioso ajuda Bolsonaro a reduzir a vantagem de Lula em bastiões petistas.
Além dos fiéis mais pobres, o candidato do PL supera o petista entre os evangélicos do Nordeste (60% a 34%).