Mario Sabino
Metrópoles
Ao se despedir irremediavelmente da Câmara dos Deputados, depois que seus agora ex-pares confirmaram a decisão do TSE de cassar-lhe o mandato, Deltan Dallagnol se equivocou, ao dizer que o Brasil é “um país da integridade. E o próximo a ser saído, dizem inimigos do senador, será Sergio Moro, cujas contas de campanha estão sendo questionadas, enquanto sua imagem vai sendo erodida meticulosamente a cada dia, num arco que vai das redes sociais ao Judiciário, passando pela imprensa — e pela autoerosão política do ex-juiz.
A tarefa é impingir-lhe a pecha de torturador, chantagista e corrupto. Com tal objetivo também foi concedido um habeas corpus a um criminoso condenado e foragido, para que possa vir ao Brasil e falar presencialmente a deputados sobre supostas desonestidades de Sergio Moro.
UM ESTRANHO HABEAS – O criminoso condenado e foragido tem requentado denúncias vazias, mas agora promete revelar provas que, curiosamente, jamais foram apresentadas ao longo dos anos. Se não mostrar prova cabal, o criminoso condenado e foragido terá obtido habeas corpus para difamar e caluniar um senador da República. Mas o mais provável é que qualquer coisa sirva como prova, porque o que se quer é apenas pretexto.
No caso de Dallagnol, em sua última e patética ida à Câmara, depois de ter sido achincalhado por dois deputados petistas que lhe deram “tchau, tchau”, o ex-procurador disse a jornalistas que “a gente é um país em que está acontecendo uma inversão de valor. A gente é um país da integridade”.
Não há inversão nenhuma de valores, porque não é verdade que somos um país da integridade. Nunca fomos e nunca seremos, sinto dizer.
DESDE A COLÔNIA – O princípio da moralidade na administração pública é inexistente desde a colonização portuguesa. Não passa de discurso decorativo. O que deveria ser público é privativo de poucos, o patrimonialismo constitui o Estado, a cobiça forja a nação.
A história causou a patologia, forneceu o diagnóstico e pronunciou o veredicto. O messianismo da Lava Jato, na sua tentativa de transformar o Brasil naquilo que ele não é, um país de moralidade anglo-saxônica ou, pelo menos, de moralidade latino-tropical menos dúctil, é a outra face do fatalismo que nos amaldiçoa, pincelado por visões edênicas enganadoras.
O quadro geral sempre foi o de dissolução, ferocidade, ignorância, rapacidade. Tais são os valores imanentes do caráter nacional, seja à direita ou à esquerda. Não está havendo inversão nenhuma, assistimos apenas à continuidade do nosso destino.