CABETO: A MODA COMO VOCAÇÃO

Por Salete Araújo

Neste sábado, trazemos o relato especial e marcante das memórias do grande estilista Cabeto, que fez e faz história na Moda brasileira e iniciou esse segmento no Ceará, ainda nos anos 1970.

Minha história de moda

Meu nome é Carlos Alberto Castelo Branco de Carvalho. Nasci no dia 16 de fevereiro de 1950, em uma pequena cidade do interior do Piauí chamada Luzilândia – um lugar onde não existia nenhuma informação sobre o que acontecia no Brasil e no mundo. Jamais na minha infância eu teria a chance de descobrir uma veia artística – para nós, isso nem existia!


Aos 12 anos, meus pais se mudaram para Fortaleza, para que assim seus filhos frequentassem melhores escolas. Fortaleza, em 1962, mesmo sendo a capital do Estado, não era um lugar onde aconteciam muitas coisas. 

Morávamos na Aldeia Aldeota, e eu, como um bom aquariano, já vivia com a cabeça nas nuvens imaginando como ter minhas roupas feitas à minha maneira por uma costureira da época. Claro que não tinha consciência do que estaria por vir.

Conheci a moda quando encontrei um hippie que usava uma bela sandália oversized (de tamanho exagerado) feita a mão e, por ter ficado realmente encantado com a peça, pedi a ele que me ensinasse a fazer uma para eu usar. Este foi o exato ponto de partida para eu me entender como um criador de arte, pois, desde então, ela tem fluido de mim e eu nunca mais parei de inventar moda.

Neste mesmo período, eu iniciei uma faculdade de administração de empresas, a qual cursei com o único propósito de gratidão e honra a meus pais por terem vindo para Fortaleza para educar seus filhos. O tal do sonho de ter filhos doutores! Terminei o curso, mas nunca fui pegar nem o diploma. Em vez disso, zarpei em um navio para morar na Europa. Destino: Londres, onde poderia ter muito mais informações sobre o que já preenchia minha alma, cultura, arte e beleza. 

O ano era 1975 e eu até pensei em fazer faculdade de Estilismo em Londres, mas se sentar em bancos de sala de aula não era mais o que eu queria para mim naquele momento de vida. Fiz uma completa imersão na vida cotidiana londrina – experimentei, vivi e pesquisei Street Fashion – e aprendi muito com aquele intercâmbio. Morei dois anos na Inglaterra e então decidi viajar para a Itália. Morei em Roma por um ano e ali encontrei minhas raízes. Tive total identificação com tudo e todos na Itália, inclusive com a moda de Armani, Valentino e Dolce&Gabanna. Após este período em Roma, fui morar Paris, onde fiquei 6 meses. Daí retornei para Fortaleza com um desejo imenso de ter meu próprio ateliê. E foi o que fiz! Iniciei meu próprio negócio na Rua Monsenhor Bruno em 1979. E naquela época ainda não existia nenhum grande evento de moda por aqui. Montei o meu primeiro desfile de moda em frente ao meu ateliê. Foi tudo organizado e executado por mim. Produção de som, passarela e iluminação não eram fáceis de se fazer ou conseguir. Assim, eu dei o pontapé inicial na minha carreira e em produção de desfiles de moda no Ceará. O evento em si marcou época e o estilista Cabeto Carvalho passou a ser também produtor. Criei e executei muitas festas, ambientações, vitrines; enfim, criar é comigo mesmo!

Produzi o primeiro Ceará Summer Fashion, o primeiro Maraponga Mart Moda, desfiles de lançamento de coleções para cinco empresas de confecção no estado e fiz desfiles de norte ao sul do Brasil. Tive lojas em Teresina, PI, uma franquia no Pará, outra em Curitiba, e em Fortaleza, lojas na Maraponga, e no Shopping Aldeota, além do ateliê na Monsenhor Bruno.

Em 1992, tive um assombroso prejuízo com o meu franquiado do Pará. Resolvi tudo, paguei tudo que devia, fechei todas as lojas, permaneci com o ateliê, no entanto, e resolvi morar com uma amiga marchand de arte em seu castelo na Espanha para passar o stress. Após seis meses, fui para Milão, onde vivi por mais cinco meses e só então, voltei para o Brasil para fazer mais moda, e também para cuidar melhor de minha espiritualidade. 

Fechei o ateliê há cinco anos. Continuo criando e atendendo meus clientes em casa e recebendo novos pedidos e admiradores através do meu instagram @cabetocarvalho, Facebook com o mesmo nome ou pelo WhatsApp 85 991493558.

Você pergunta sobre um filme e um livro que indicaria, vi há algum tempo o filme “Sempre ao seu lado” com Richard Gere no papel de um professor universitário que, ao retornar do trabalho, encontra na estação de trem um filhote de cachorro da raça akita. Sem ter como deixá-lo na estação, o professor o leva para casa mesmo sabendo que sua esposa não gostaria muito da ideia de um cachorro. Não quero dar spoiler! Mas filme é lindo, inspirador e verídico.

 O filme valoriza as verdadeiras amizades e a lealdade entre amigos – coisas que estão difíceis de nos dias de hoje! E sobre o livro, bem, estou escrevendo minhas memórias. E olha que eu tenho uma memória de elefante e vou contar muitas aventuras minhas pelo mundo! Será épica, ilustrativa e bastante fashion! Creio que este livro contribuirá de várias maneiras para a história desta cidade que se tornou minha Fortaleza.

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Um dia acordei para ‘jornalizar’ a vida com os meus leitores. Nesta época trabalhava no extinto jornal Tribuna do Ceará, de propriedade do saudoso empresário José Afonso Sancho. Daí me veio a ideia de criar o meu próprio site. O ponta pé inicial se deu com a criação do Caririnews, daí resolvi abolir este nome e torna-lo mais regional, foi então que surgiu O site “Caririeisso” e, desde lá, já se vão duas décadas. Bom saber que mesmo trabalhando para jornais famosos na época, não largava de lado o meu próprio meio de comunicação. Porém, em setembro de 2017 resolvi me dedicar apenas ao site “Caririeisso”, deixando de lado o jornal Diário do Nordeste, onde há sete anos escrevia uma coluna social…

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