Bruno Boghossian
Folha
A campanha de Jair Bolsonaro conseguiu uma jogada importante neste início do segundo turno: fez com que uma potencial resistência à volta do PT ganhe mais espaço como fator de decisão de voto. O presidente vinha enfrentando uma eleição com ares de plebiscito sobre a continuidade do governo, mas agora tenta usar o recomeço da disputa para buscar um equilíbrio.
Dois fatos políticos de destaque contribuem para seu esforço. O governador mineiro Romeu Zema declarou apoio à reeleição do presidente com um discurso baseado na rejeição ao PT. Em São Paulo, Rodrigo Garcia se alinhou ao bolsonarismo numa decisão fincada no antipetismo histórico do estado.
NOVOS PARÂMETROS – O segundo turno muda alguns parâmetros da busca pelos votos que continuam em disputa. Lula vai insistir na expansão de seu eleitorado sob o argumento de que é preciso evitar mais um mandato de Bolsonaro, enquanto o presidente tenta convencer o país de que é mais importante evitar o retorno do petista.
O cenário apresenta a Lula um novo desafio. O ex-presidente saiu do primeiro turno em vantagem e conseguiu votos que já representavam um repúdio a Bolsonaro.
Para continuar à frente, ele precisa garantir que esses eleitores voltem às urnas, conquistar novas adesões e evitar que o antipetismo se sobreponha ao desejo de derrotar o presidente.
NOVAS BONDADES – Nessa batalha de rejeições, Bolsonaro trabalha para reforçar suas próprias defesas. Nos últimos dias, o presidente anunciou a antecipação de pagamentos do Auxílio Brasil e prometeu criar novos benefícios dentro do programa. É uma tentativa de reduzir a sensação de mal-estar com o governo, com o objetivo de manter a campanha no terreno da política e da ideologia.
A frente antipetista que Bolsonaro tentou apresentar na largada do segundo turno pode não ser suficiente para virar o jogo, mas deixa o presidente numa situação menos desconfortável.
Agora, Lula também terá que convencer o eleitor de que não é o alvo principal da disputa.