Eliane Cantanhêde
Estadão
O ano de 2022 marca o estrangulamento do centro e a polarização entre os extremos para além das eleições, com a esquerda de um lado e a extrema direita de outro, ambos servindo como ímã para as demais forças políticas. E é assim que os movimentos no segundo turno, de certa forma naturais, são da centro-esquerda para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da centro-direita para o presidente Jair Bolsonaro.
Esse estrangulamento do centro parece, mas não é, exclusivo do Brasil. Basta olhar a Colômbia, há décadas presidida pela direita, que viveu neste mesmo 2022 uma eleição entre um ex-guerrilheiro do M-19, Gustavo Petro, e um ricaço que, em 2016, fez loas “ao grande pensador alemão Adolf Hitler”, quando queria dizer Albert Einstein…
DIREITA RESSURGE – Na Europa, onde os governos aglomeravam partidos e ideias ao centro, a extrema direita emerge por toda a parte, com um discurso que continua chocando metade da população brasileira, mas não choca mais boa parte da outra metade.
Essa “novidade” é mais evidente na França, mas é forte na Suécia e na Alemanha e desponta até em Portugal e Itália. Sem falar em Hungria, Polônia, Rússia e na estonteante vitória de Donald Trump nos Estados Unidos.
Lula atrai nomes de grande apelo moral, a começar de Fernando Henrique Cardoso, com quem se reencontra numa foto, quatro décadas depois das Diretas-Já, em mais uma jornada pela democracia. Já os apoios de Bolsonaro, que não parecem tão preocupados com a democracia, têm o principal: votos.
UM E OUTRO – É assim que Lula tem maior chance de vencer no dia 30 e não diz para quê, mas Bolsonaro já faz planos para o “day after”. Planos que fazem todo o sentido, porque a história mostra que líderes com instinto e projetos autoritários usam o segundo mandato para aumentar seu poder e reduzir o das instituições, como Hugo Chávez na Venezuela.
No mapeamento do Planalto, a bancada bolsonarista tem 44 (não 41) dos 81 senadores de 2023, do PL, PP, PSC e Republicanos, mas também do PSD, União Brasil, Podemos e MDB. É com esse exército, não as Forças Armadas, que Bolsonaro pretende fechar o cerco.
INVADIR O SUPREMO – Se reeleito, Bolsonaro terá Executivo, Legislativo (não mais só a Câmara) e tentará invadir o Supremo, com impeachment de ministros e mais sete cadeiras na Corte.
O STF está atento, saca a cláusula pétrea da independência dos Poderes e conta com o bom e velho pragmatismo do Centrão. Para eles, orçamento secreto e mensalão, sim, mas golpe e ataques às instituições e à democracia, aí, não!
Aliás, foi o que disse Valdemar Costa Neto, presidente do PL de Bolsonaro, num giro pelo Supremo na quinta-feira. Que não seja só de boca para fora.