Thomas Traumann
Veja
Um dia depois do ato que reuniu uma multidão em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, a manifestação e seus desdobramentos continuam tendo repercussão. O Domingão do Jair, a manifestação que levou milhares de pessoas a enfrentar o calor de 35 graus no domingo na Avenida Paulista para se solidarizar com o ex-presidente Jair Bolsonaro, foi uma demonstração de força do antipetismo. O vencedor da marcha, no entanto, não foi Bolsonaro, mas o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Bolsonaro saiu da Paulista como entrou. Acossado por uma investigação da Polícia Federal recheada de evidências de que o Palácio do Planalto preparava um golpe para impedir a posse de Lula da Silva.
No discurso na Paulista, o ex-presidente agravou a sua situação ao sugerir ter conhecimento da minuta do decreto de Estado de Defesa encontrada com seus assessores e que, na investigação da PF, é prova material da evolução da ruptura institucional.
Na sua fala improvisada, Bolsonaro chamou os vândalos do 8 de Janeiro de “aliados” e pediu ao Congresso que aprove uma anistia para “passar uma borracha no passado”. Parecia falar não dos vândalos, mas de si mesmo.
Inelegível até 2030, Bolsonaro sabe que o seu poder será imediatamente transferido assim que escolher um sucessor. Esse é o seu último trunfo. No domingo, ele mostrou uma preferência.
Dos três possíveis herdeiros do bolsonarismo, dois foram ignorados pelo ex-presidente. Líder do agro desde os anos 1980, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, sequer foi mencionado no discurso. Líder empresarial, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, foi citado lateralmente quando se falou do seu Estado. Tarcísio, por sua vez, foi elogiado e o único a discursar.
“Você (Bolsonaro) não é um CPF, você representa um movimento de todos os que descobriram que vale a pena brigar pela família, pela pátria, pela liberdade”, disse o governador.
Tarcísio foi ovacionado quando disse que todos ali estavam “com saudades de Bolsonaro”, a quem chamou de “amigo”. A preços de hoje, o governador de São Paulo não vira o candidato da oposição em 2026 só se brigar feio com o ex-presidente.