ARRE ÉGUA, GESTÃO LULA VAI CRIAR 12 MINISTÉRIOS + 28 EXISTENTES = 40 PASTAS

Marcus André Melo
Folha

A imprensa tem noticiado a criação de dez novas pastas ministeriais, um aumento de 40%, número que será provavelmente ampliado. Sim, os partidos da base potencial do governo “querem um carinho”, como afirmou um senador do PT. A expectativa é que a distribuição das pastas irá reger-se pela realpolitik de governos de coalizão. Ou, pelo menos, deveria: dela dependerá a governabilidade futura.

Governos de coalizão são encontrados em 80% dos sistemas parlamentaristas e em mais da metade dos presidencialistas e semipresidencialistas; são a regra mais que exceção, ainda que para alguns analistas pareça uma patologia institucional.

PARTILHA DE PODER – Essa regra implica em partilha de poder —o que na prática se manifesta na distribuição do portfólio ministerial e de postos de comando nas estatais.

Mas o horror às coalizões não denota apenas desconhecimento. Entre nós, ela tem ancoragem real no atávico governismo, pintado com escárnio por Machado de Assis em “Esaú e Jacó” (de onde retiro o diálogo a seguir), e na sua associação com a corrupção e a captura de rendas.

“Não se assuste, é o governo que cai.

“Mas eu ouço aclamações…”

“Então é o governo que sobe. Não se assuste. Amanhã é dia de cumprimentá-lo!”

39 MINISTÉRIOS – Nos governos anteriores do PT, o número de ministérios era disparado o maior da América Latina e mais que o dobro da média europeia, atingindo 39 sob Dilma. Veja aqui. Na Europa, no período 1944 a 2005, metade dos gabinetes tinha menos de 17 pastas ministeriais, como mostraram I. H. Indridason e Shaun Bowler.

Para esses pesquisadores, o tamanho dos gabinetes é função da intensidade dos conflitos no interior dos partidos e entre eles.

Em países onde o conflito — não só partidário, mas também tribal — é intenso e o império da lei, débil, o gabinete converte-se em ruidosa assembleia: são 71 ministérios em Uganda, 54 na Nigéria etc.

HÁ EXPLICAÇÃO – Leonardo Arriola (UC-Berkeley) argumenta que, nesses casos, os ministérios hiperdimensionados evitam a escalada violenta de conflitos: o preço da governabilidade é assim a partilha predatória da máquina pública.

Em nosso país, as instituições reagiram recentemente a arranjos similares, o que engendrou uma reação insidiosa do sistema cujos desdobramentos ainda não estão claros. Sinal amarelo. Na Europa, os acordos de coalizão são contratualizados em bases programáticas, como discuti aqui.

Entre nós, a construção de maiorias governativas é processo opaco e de baixa inteligibilidade para a sociedade. O resultado é o cinismo cívico. E mais: se ela exige a incorporação de mais da metade da oposição, a responsabilização política —a premiação e punição pelo desempenho de agentes públicos eleitos— evanesce.

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe!

sobre

Um dia acordei para ‘jornalizar’ a vida com os meus leitores. Nesta época trabalhava no extinto jornal Tribuna do Ceará, de propriedade do saudoso empresário José Afonso Sancho. Daí me veio a ideia de criar o meu próprio site. O ponta pé inicial se deu com a criação do Caririnews, daí resolvi abolir este nome e torna-lo mais regional, foi então que surgiu O site “Caririeisso” e, desde lá, já se vão duas décadas. Bom saber que mesmo trabalhando para jornais famosos na época, não largava de lado o meu próprio meio de comunicação. Porém, em setembro de 2017 resolvi me dedicar apenas ao site “Caririeisso”, deixando de lado o jornal Diário do Nordeste, onde há sete anos escrevia uma coluna social…

© 2022 – CARIRI É ISSO.  by Valdi Geraldo.

plugins premium WordPress