ENTREVISTA
Felipe Frazão
Estadão
Mesmo equilibrando-se no discurso de que seu partido adota posição neutra na disputa presidencial, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, admitiu ao Estadão que vai participar de conversas com o petista Luiz Inácio Lula da Silva, caso haja segundo turno.
Kassab vem evitando se posicionar na corrida presidencial desde que seu partido emplacou o candidato a vice na chapa de Tarcísio de Freitas ao governo paulista. Tarcísio é o nome do presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Mas criticou as pressões para que os candidatos Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) abram mão de concorrem para eleger Lula já no primeiro turno.
“Não podem aqueles que não querem o Lula ou que não querem o Bolsonaro dizer que a culpa é da Simone ou do Ciro. Nós estamos faltando com respeito com a própria democracia, é um direito do partido ter o seu candidato” disse Kassab.
O que levou a termos uma eleição com tanta estabilidade no cenário, sem alterações do início ao fim?
O País está polarizado. A eleição do Bolsonaro foi a eleição de uma direita bastante assumida. A direita está no governo e ficou mais encorpada politicamente. Mas o tempo mostrou que, também até eleitoralmente, os próprios números do Bolsonaro mostram que ele não tem menos de 30% em nenhuma pesquisa, então tem pelo menos um terço do eleitorado. E a esquerda, com o Lula na frente, não tem menos de 40% em nenhuma pesquisa. Nesses quatro anos a direita se organizou e a esquerda não se desorganizou e se recuperou em função de um governo que não conseguiu trazer os resultados que prometeu. A esquerda ganhou força e com isso não foi rompida a polarização. Não houve espaço para surgir a candidatura alternativa.
O que resta para candidatos como Ciro Gomes (PDT) e Simonte Tebet (MDB) que se colocaram como alternativa? É possível evitar o voto útil?
Voto útil acontece em muitas eleições, deve ser visto com naturalidade, mas eu acredito que nesse primeiro turno, a Simone e o Ciro vão ter votos e estão de parabéns por terem levado a campanha até o final. Geralmente o voto útil acontece nos últimos dias, ele ganha força a partir de quarta-feira. Se ganhar força nós podemos ter eleição no primeiro turno. Há quem diga que Ciro e Simone hoje são apenas figurantes e que os votos neles favorecem Bolsonaro ao ajudar a levar a eleição ao segundo turno. Mas a gente tem que respeitar a candidatura. O PSD mesmo se esforçou para ter uma e não conseguiu. Não podem aqueles que não querem o Lula ou que não querem o Bolsonaro dizer que a culpa é da Simone ou do Ciro. Nós estamos faltando com respeito com a própria democracia, é um direito do partido ter o seu candidato.
O senhor tinha dito que no segundo turno apoiaria o Lula. Com essa possibilidade de encerrar no primeiro, avalia antecipar a declaração de apoio a ele?
Eu sou o presidente do partido, e o partido decidiu-se pela neutralidade. Então, do ponto de vista da política interna, com muito cuidado, vou conduzir essa questão porque não vai fazer nenhuma diferença na minha posição pessoal. O importante é que o partido tenha unidade, um respeito entre as lideranças, qualquer que seja o seu lado, por ser um partido de centro e nós não termos candidato. Temos candidatos com mais afinidade, por questões locais ou ideológicas, com uma candidatura mais conservadora, como temos lideranças com mais afinidade com uma candidatura mais progressista.
O senhor vai manter a posição anterior de apoio ao Lula se houver segundo turno?
Vamos com calma.
Mas falta só essa semana…
É uma eternidade.
Existe o voto envergonhado no Brasil hoje?
Toda eleição tem aqueles que preferem não externar o voto, é natural isso. Tem pessoas que têm constrangimento, seja por respeito a outras pessoas próximas ou por competição mesmo.
O senhor vai dar o voto envergonhado ao Lula?
Você não vai arrancar meu voto, não.
Existe uma inclinação maior, pelo que o senhor percebe, dos candidatos do partido a apoiar o presidente Lula?
Não há unidade. Os Estados do Sul têm mais dificuldade nos seus projetos locais de fazer uma opção por uma alternativa mais à esquerda. Tomamos muito cuidado para preservar a unidade partidária e será assim também no segundo turno.
O cenário que o sr enxerga hoje é mesmo, ainda que num segundo turno, de derrota do governo Bolsonaro? Se for isso, por que ele não não conseguirá reeleição?
Seria a primeira vez que o presidente tenta a reeleição e não consegue. Não é o que eu enxergo, são as pesquisas. Todas elas mostram uma dificuldade do Bolsonaro nessa eleição ou todas elas estão erradas. E as razões estão expostas, a gestão da pandemia, a economia, o preço dos alimentos, os combustíveis até então, agora menos, tudo isso são as razões que levam o governo a ter dificuldade na sua candidatura. Não é incomum um titular do cargo não conseguir se eleger, seja prefeito, seja governador. O presidente não está conseguindo, pelo menos é o que dizem as pesquisas.
Muita gente diz que para os presidentes do partido a eleição termina em 2 de outubro, com os parlamentares eleitos. Que projeção o senhor faz do que será o PSD e a configuração da Câmara?
O PSD deve eleger entre 55 e 65 deputados federais. Eu tenho dito 60, não é menos 55 e não acredito que seja mais de 65. E deverá ficar com 14 ou 15 senadores. Acredito que as bancadas mais expressivas da Câmara serão a do PL e a do PT, em torno de 70, pelo que ouço dos dirigentes deles.