Será preciso, antes de plantar as primeiras sementes, preparar o solo. É o que faz a família Brunetta, de Mato Grosso, nos 3 mil hectares que adquiriu no município de Araripe
Por Egídio Serpa by Diário do Nordeste
Informa o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Faec), Amílcar Silveira: contratado pela entidade, Milton Ide, um dos mais requisitados consultores em agricultura do país, visitou toda a área da Chapada do Araripe, na região do Cariri, no Sul do estado, e, também, a Chapada do Apodi, no Leste, concluindo que ambas são áreas propícias para o plantio de algodão e outras culturas. De acordo com Ide, é na Fazenda Nova Agro, em Limoeiro do Norte, visitada por ele, que a cotonicultura cearense mais avança, graças à irrigação e ao uso da moderna tecnologia, incluindo a do tratamento do solo.
Milton Ide – segundo revela o presidente da Faec – não tem dúvida de que o projeto Algodão do Ceará, em implementação pelas federações da Agricultura e das Indústrias (Fiec) e pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) do Governo do Estado, “tem 100% de chance de sucesso, desde que adotadas as medidas corretas, uma das quais é a preparação do solo, algo que já vem fazendo a família Brunetta – que planta e colhe soja e algodão em Mato Grosso e há três anos cultiva soja em 3 mil hectares adquiridos no município de Araripe, na chapada de mesmo nome”, como informa Amílcar Silveira.
Na opinião do consultor Milton Ide, toda a Chapada do Araripe e as outras áreas da região do Cariri são adequadas para o desenvolvimento de várias culturas, inclusive a do algodão. Coincidindo com esta opinião, a família Brunetta já anunciou que, por enquanto, com a assessoria da Embrapa, está cultivando soja e mandioca, como preparação do solo para receber as primeiras sementes de algodão, o que acontecerá dentro de dois anos, como anteciparam à coluna, no dia 5 de setembro passado, Eloy e Gianni Bruneta. Eles também informaram que usarão água de um poço profundo, a ser perfurado, para a irrigação do seu futuro algodoal.
Esta coluna pode informar que o projeto Algodão do Ceará prevê o cultivo irrigado e, também, em regime de sequeiro, ou seja, dependendo da água da chuva. Na Chapada do Araripe, a pluviometria média anual é de 1.200 milímetros. É nesta estatística que confiam os agricultores de Mato Grosso e de outros estados que estão chegando para investir na cotonicultura no Sul do Ceará.
Quanto à Chapada do Apodi, a conclusão do consultor Milton Ide é de que toda a área é muito adequada ao cultivo do algodão. O solo é bom, mas precisa de ser tratado e há água no subsolo para garantir a irrigação, o que vem a Fazenda Nova Agro, do empresário Raimundo Delfino Filho. Mas há problemas detectados pelo consultor: a logística de transporte da região é precária e, além disso, há dificuldades para o funcionamento dos pivôs centrais causadas pelas constantes perdas de potência da rede de energia elétrica, o que afeta diretamente a produção da Nova Agro.
A Enel Ceará – que tem o monopólio da distribuição de energia elétrica em todo o estado – tem trabalhado no sentido de superar o problema, esforço até agora sem êxito, como lamentam os agricultores que produzem naquela região.
O Governo do Estado promete há um ano e meio que recuperará a malha rodoviária da Chapada do Apodi, que, além da cultura de soja e algodão, é sede de um crescente polo de fruticultura, sendo também uma área industrial: é lá, em Quixeré, que está localizada a grande unidade industrial da Companhia de Cimento Apodi, empresa 50% da família Dias Branco e 50% da gigante multinacional cimenteira grega Titan.
É pelas hoje precárias estradas da Chapada do Apodi que se escoa toda a produção agrícola e industrial da região, incluindo a da Nordeste Vegetais, do empresário Edson Brok, maior exportadora brasileira de banana nanica (Cavendish) para a Europa, cuja fazenda se localiza em Quixeré, na área do Projeto de Irrigação Jaguaribe-Apodi (Dirja).
Como se aproxima a estação de chuvas – que começará em janeiro – os agricultores e os industriais cimenteiros da Chapada do Apodi não escondem sua preocupação com a possibilidade de deterioração ainda maior das estradas que cortam a região. Eles confessaram à coluna que a chamada “estrada do melão” poderá ficar intransitável, se as chuvas de 2025 repetiram a mesma intensidade deste ano de 2024.
Amílcar Silveira, que fala em nome dos produtores rurais cearenses, mantém o otimismo em relação à promessa do governador Elmano de Freitas, pronunciada na Pecnordeste de 2023, segundo a qual o governo estadual executará um projeto de melhoria das rodovias da Chapada do Apodi, incluindo as vicinais, pelas quais transitam os caminhões que, durante todo o dia, transportam o leite colhido nas fazendas da região.
Os líderes da agropecuária do Ceará e o Governo do Estado têm tido uma relação amistosa e respeitosa, a qual, pelo andar da carruagem, deve prosseguir ao longo de 2025.