Pedro do Coutto
Na edição de ontem, domingo, da Folha de São Paulo, Mônica Bergamo revelou que o presidente Lula da Silva encontra-se fortemente insatisfeito com a presença de Roberto Campo Neto na Presidência do Banco Central, sobretudo porque continua aplicando uma política de juros altos que no fundo leva o país a uma crise econômica e social.
Na realidade, o Bacen elevou a taxa Selic para 13,75% ao ano em decorrência da inflação calculada pelo IBGE ter batido em 10% em 2021. Mas, em 2022, o mesmo IBGE visualizou um índice inflacionário de 5,7%. Entretanto, o Banco Central, no final de janeiro, manteve a Selic em 13,75%. A taxa Selic, como se sabe, é o fator de correção anual da dívida interna do Brasil que se encontra na escala de praticamente R$ 6 trilhões.
JUROS – Assim, o país tem que pagar juros de quase R$ 800 bilhões para rolar o endividamento em que se encontra. Isso de um lado. De outro, para atrair aplicações de títulos do Tesouro, na visão de Campos Neto, é necessário oferecer uma rentabilidade nominal de 13,75% para 12 meses. Acontece que, como já definiu Einstein, tudo é relativo.
Então, quando a inflação bateu 10 pontos, a diferença entre a Selic e a taxa encontrada pelo IBGE era 3,75%. Mas, com a inflação de 7,5%, a diferença real entre a Selic e o índice inflacionário passou a ser de 8%, taxa que reforça substancialmente as aplicações financeiras. E assim, desvia investimentos do plano económico para, digo, a mesa do mercado onde está sentado sempre um tigre com a pata pronta para golpear os que se encontram à sua volta.
A taxa Selic mais alta interessa diretamente aos bancos, bastando que estes apliquem em títulos do Tesouro depósitos estacionados nas cadernetas de poupança.Só comparar o rendimento das cadernetas com os 13,75% de juros. Torna-se inevitável a transferência estudada de um plano para outro. Um ótimo resultado tanto para os bancos quanto para os fundos de investimento e os fundos de pensão das estatais que também atuam no mercado financeiro.
TRANSFERÊNCIA – Em seu livro “O Capitalismo no século XXI”, obra monumental de Thomas Piketty, ele mostra a transferência no mundo de aplicações econômicas que geram empregos e os investimentos simplesmente financeiros que não implicam na extensão do mercado de trabalho, nem traduzem avanço para fundamental transferência de renda, única forma de combater concretamente a pobreza e através do tempo a própria concentração de renda que, de ano para ano, torna-se cada vez maior.
No caso de Lula e do BC, Mônica Bergamo informou que, a meu ver, inevitavelmente, a insatisfação do presidente da República torna impraticável a presença de Campos Neto no cargo em que se encontra. Alguém pode dizer, como certamente dirá, que ele possui um mandato. É verdade. Mas é verdade que ninguém pode exercer um cargo dessa importância sem contar com a confiança do presidente da República. Ele próprio, Roberto Campos Neto, sentirá, penso, a pressão para renunciar. Depois da matéria de Mônica Bergamo, ele não tem outro caminho.
ENTRE QUATRO PAREDES – Também em sua na coluna de ontem da Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo publica declarações de Maria Cristina Mendes Caldeira, que foi casada com Valdemar Costa Neto, revelando conceitos que o seu ex-marido (entre quatro paredes) deixou escapar sobre o que ele pensa de fato sobre Bolsonaro e de suas inquietações permanentes.
Isso leva a pensar quanto tempo poderá durar a sintonia entre o presidente do PL e o ex-presidente da República. A meu ver, a sintonia começou a desaparecer com as declarações de Valdemar a respeito do projeto de decreto que tinha como objetivo alucinado incriminar o TSE no resultado das eleições e intervir na Justiça Eleitoral. A impressão que se tem é que Valdemar está se afastando de forma lenta, mas progressiva, de Jair Bolsonaro