Pedro do Coutto
A equipe de transição constituída pelo presidente eleito Lula da Silva, em primeiro lugar, antes de mais nada, deve fornecer um quadro geral da situação da economia e da administração pública no final deste ano, na véspera da posse de Lula da Silva na Presidência. Digo isso porque não é atribuição da equipe que trata da transferência de poder propor ou estabelecer planejamentos para a nova administração.
Essa é outra etapa da passagem do poder, mas não se confunde com a necessidade de se radiografar a verdadeira imagem interior da economia, já que nenhum planejamento pode funcionar sem esses dados básicos. Reportagem de Bruno Rosa, O Globo desta terça-feira, focaliza o assunto e também propostas de modificações no sistema de preços da gasolina que não cabem à equipe que faz a passagem de um período para outro. Também não tem cabimento surgirem articulações sobre a equipe de governo de Lula da Silva antes que ele próprio defina a escalação de seu time.
MINISTÉRIO DA FAZENDA – Vítor da Costa, também no O Globo, toca no problema cambial e acentua que o avanço do dólar nas últimas 48 horas é uma indefinição sobre quem será o ministro da Fazenda, e coloca uma dúvida entre Fernando Haddad e Henrique Meirelles. Não cabe especulação sobre o assunto.
A equipe tem que fazer um levantamento sobre como está a produção brasileira industrial que registra queda esse ano, como está a situação cambial, como se encontra a dívida interna do país, como está o sistema de transportes, como está a educação que teve quatro ministros ao longo do governo bolsonaro e nenhum projeto para o sistema de ensino, entre outros.
A questão dos combustíveis, por exemplo, focalizada por Leonardo Vieceli, Folha de S. Paulo, inclui um quarto aumento seguido no preço da gasolina que já volta ao patamar de R$ 5 após ser represada para efeito eleitoral. Problema, na minha opinião, também para o IBGE que vem se baseando nos preços da gasolina e do diesel, reduzidos para efeito político e que agora não tem mais esse caminho para ilusão.
INFLAÇÃO – O registro efetivo da inflação influi diretamente sobre o salário mínimo conforme a lei em vigor, e também sobre o reajuste dos vencimentos de 32 milhões de aposentados e pensionistas do INSS, cuja remuneração varia de um a cinco salários mínimos, teto dos direitos sociais contidos na Previdência Social. Digo direitos, pois os aposentados e pensionistas descontaram a vida inteira de trabalho para aposentadoria e pensão. Não são benefícios como se costuma dizer. São apólices de seguro social que venceram e o governo tem que resgatar.
Assim, são problemas que a equipe de transição deve focalizar em primeiro lugar e deixar o planejamento e as especulações políticas para depois, pois a transição de poder já se aproxima. O problema social tem que ser visto com muita atenção, mas antes disso a pergunta que se coloca também é saber em que pé se encontram os precatórios. O adiamento dos precatórios foi um absurdo que desacreditou o governo como devedor, seguindo o exemplo do Plano Collor, de 1990, que acabou na justiça, mas que deixou prejuízos enormes aos depositantes nas cadernetas de poupança.
Esse é um quadro econômico que traz consigo o ângulo social gravíssimo. A fome de mais de 30 milhões de pessoas e a dúvida de outra parcela enorme da população se terá alimentos à mesa de suas famílias. É preciso radiografar o panorama para levar até a população brasileira o verdadeiro quadro do país.
