Bruno Boghossian
Folha
Lula escolheu como vice um político de centro-direita, levou ao palanque uma senadora de um estado ruralista e recebeu o apoio de economistas que têm laços históricos com o PSDB. Apesar de todos os movimentos, a campanha petista entendeu que era necessário mais um passo nos dias finais do segundo turno.
O ex-presidente deu na segunda-feira (24) sua declaração mais incisiva sobre as cores de uma eventual gestão liderada por ele. “Nosso governo não será um governo do PT”, afirmou Lula, que se dirigiu à presidente do partido, Gleisi Hoffmann, para avisar que a sigla precisará ceder espaço caso chegue ao poder.
REJEIÇÃO AINDA ALTA – A companhia de Geraldo Alckmin e Simone Tebet pode ter facilitado a adesão de alguns segmentos a Lula, mas não anulou a rejeição ao PT como fator relevante na disputa. Assim, explorado por Jair Bolsonaro, o fantasma da esquerda se manteve como um risco para o ex-presidente.
O objetivo da campanha de Lula é criar uma barreira de contenção a um antipetismo de última hora, que poderia transformar a rejeição ao partido num bônus de votos para Bolsonaro na reta final. Dizer que a vitória de Lula não pintaria o país de vermelho é uma tentativa de amenizar o receio de alguns eleitores.
Bolsonaro consolidou um núcleo robusto de apoiadores fiéis, que se identificam com boa parte de sua plataforma. Mas o antipetismo se mostrou capaz de ampliar essa órbita já no primeiro turno, reaproximando do presidente eleitores que apresentaram restrições ao governo ao longo dos últimos quatro anos.
MOMENTO CRUCIAL – Uma expansão ainda maior desse grupo é crucial para a reeleição de Bolsonaro no segundo turno. Nesse sentido, o presidente faz um esforço para converter, pelo medo, os últimos indecisos e os eleitores dispostos a votar em branco ou nulo.
Frear o antipetismo é importante para Lula por dois motivos: para evitar uma onda de grandes proporções a favor de Bolsonaro e para garantir que antibolsonaristas com baixa ou nenhuma simpatia pelo PT compareçam para votar.