Paulo Moura
Pleno News
O analista judiciário Alexandre Gomes Machado, do Tribunal Superior Eleitoral, disse que procurou a Polícia Federal (PF) por medo de sofrer algum tipo de violência. Ele foi exonerado do cargo de assessor de gabinete da Secretaria Judiciária da Secretaria-Geral do TSE nesta terça-feira (25) e disse à PF que sua saída ocorreu após ele informar irregularidades na inserção de propagandas eleitorais. A declaração foi dada em entrevista concedida ao site O Antagonista.
– Fui atendido pelo delegado de plantão, disse que temia pela minha integridade física. Tiraram meu crachá, minha credencial de acesso, sem nenhuma satisfação e na frente de todo mundo. Achei que estava sofrendo uma condução coercitiva – disse.
POOL DE EMISSORAS – Alexandre, que fazia a coordenação do pool de emissoras que transmitem a propaganda eleitoral em rádio e TV, contou que foi escoltado até a saída do TSE e teve seu crachá retirado. O ex-servidor relatou que, antes de ser demitido, seu chefe teria voltado “pálido” após uma reunião.
– Tinha chegado esse email que comprovava de alguma forma (a denúncia), porque a rádio estava admitindo que deixou de passar 100 inserções. Vinte minutos depois, meu chefe vai para a reunião e volta pálido: “O Levi [secretário-geral do TSE, José Levi do Amaral Jr] falou que vai te exonerar. O ato de exoneração já está pronto” – disse.
Machado ainda contou que, em 2018, depois que o TSE cassou o registro da candidatura de Lula, diversas emissoras continuaram divulgando propaganda com o petista, o que gerou uma série de reclamações. O ex-coordenador informou que foi nessa época que ele percebeu que o tribunal não possui nenhuma ferramenta capaz de fiscalizar o cumprimento dessa obrigação.
NÃO HÁ CONTROLE – “O que não está certo? Não existe controle do TSE sobre as inserções de televisão e rádio. Não tem um contrato de auditoria de mídia. Acho que se procurar inserção de TV, pode ser até pior que as de rádio. Isso é tudo feito via player” – declarou.
Em outro trecho do depoimento, Machado afirmou acreditar que teria sido desligado por causa do fato de que “desde o ano de 2018 tenha informado reiteradamente ao TSE de que existem falhas de fiscalização e acompanhamento na veiculação de inserções da propaganda eleitoral gratuita”.
Os questionamentos sobre as inserções foram divulgados na última segunda-feira (24), quando o ministro das Comunicações, Fábio Faria, informou que a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) teve mais de 154 mil inserções a menos que a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em vários emissoras de rádio ao redor do Brasil.
AÇÃO NO TSE – Com a constatação, a coligação de Bolsonaro ajuizou uma ação no TSE questionando o fato de diversas inserções do atual chefe do Executivo não terem sido veiculadas. Diante disso, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, pediu que a campanha do chefe do Executivo apresentasse dados que comprovassem as acusações, o que foi feito nesta terça-feira (25).
Os dados foram enviados ao TSE em um relatório. Um dos documentos cita oito rádios que teriam deixado de reproduzir inserções do candidato à reeleição. Além disso, o documento traz os horários que as inserções de Lula teriam aparecido mais vezes do que as de Bolsonaro.
– Para que se aquilate a gravidade da irregularidade noticiada, a título exemplificativo, pôde-se comprovar, em pequena amostragem de oito rádios (nominalmente referidas), em apenas uma semana, significativa discrepância de 730 inserções, em desfavor da campanha do candidato peticionário – aponta trecho do documento.
NOTA DA REDAÇÃO DO SITE– Já foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) a exoneração de Alexandre Gomes Machado, que virou uma espécie de mordomo, principal suspeito de irregularidades que por ele não foram cometidas, vejam a que ponto chegamos. Como dizia Tom Jobim, é a lama, é a lama, é a lama.