Carlos Newton
Não adianta Bolsonaro e seus seguidores repetirem à exaustão que Lula é ladrão e corrupto. Isto é recorrente em campanhas para prefeito, governador e presidente da República, a cada dois e quatro anos. E nada acontece após as apurações eleitorais.
Para que tão graves ofensas e delitos mereçam crédito e não deixem de constar verdadeiramente na História Republicana, vamos publicar alguns trechos de entrevistas dadas pelo ex-procurador de Justiça Hélio Bicudo (1922/2018), grande defensor de direitos Humanos, e que, inclusive, foi candidato a vice na chapa de Lula, em 1982 e se elegeu vice-prefeito de São Paulo, no governo Marta Suplicy:
1 – “O PT, realmente, não tinha programa de governo, tinha um projeto, que não chegava a ser um programa de governo, mas nós esperávamos que, com a eleição do Lula, que obteve 52% dos votos, se não me falha a memória, e mais a aprovação de 86% da população brasileira, ele pudesse desde o início, organizar um ministério realmente efetivo, para efetivar as reformas que o Brasil precisava e nada disso aconteceu… Continuou-se negociando posições, negociando cargos através de benefícios ou através de dinheiro, e isto evidentemente não representou, em hipótese alguma, o que nós esperávamos, não só do Lula, como do próprio Partido dos Trabalhadores”.
2 – “O José Dirceu (ex-chefe da Casa Civil do governo Lula, deputado federal cassado e condenado pela Justiça a mais de dez anos de prisão) atuou como atuou, porque ele tinha evidentemente o conhecimento daquilo que ele estava fazendo. Eu acho que essa punição de José Dirceu foi algo estimulado para que o José Dirceu aparecesse como o grande delinquente e o Lula ficasse como vítima desse delinquente, o homem traído, e o homem que não se poderia responsabilizar por toda essa corrupção que hoje ainda ronda o Brasil… Então, na verdade, a mim me parece que está claro esse conluio para que Dirceu assumisse a responsabilidade, fosse ele punido e os outros não, que também participaram, para que o Lula parecesse como uma pessoa virginal, que ignora tudo e é traído pelos amigos”.
3 – “Eu acho que o presidente precisa ser um homem livre de qualquer suspeita, não é? Qualquer suspeita… E por que o Supremo Tribunal interfere no Poder Legislativo até esse ponto e por que o Poder Legislativo se submete às interferências do Poder Judiciário até esse ponto? Se os poderes são autônomos, evidentemente, que o Poder Legislativo não poderia aceitar essas dificuldades que lhe são apostas pelo Poder Judiciário na apuração dos problemas de corrupção que surgem no governo” (referindo-se ainda aos governos Lula).
4 – “Como Lula, num regime presidencial, pode ter sido traído? Ele é a cabeça da administração pública, como pode alguém fazer alguma coisa na antessala do presidente da República e ele ignorar o que está se passando? Eu acho que nessa atuação do presidente Lula, embora ele procure desmistificar essa sua atuação, é uma atuação de desmoralização do Congresso Nacional e vai contra a instituição do estado de direito do país.”
5 – “Como é que isso ocorre num país democrático? Como o procurador-geral da República denuncia todos aqueles que, ou uma grande parte daqueles que foram acusados de atos de corrupção no mensalão e outros atos de corrupção, e o presidente da República (referindo-se a Lula) fica de fora? A fundamentação do meu entendimento é que desde que se considere que houve um mandante e que este mandante é o presidente da República, ele não poderia ficar de fora de uma denúncia”.
6 – Quando o Lula assumiu, eu pensei que ele fosse organizar um ministério que realmente correspondesse às expectativas nossas, do partido, das pessoas de esquerda do partido. Não foi isso que aconteceu. O primeiro Ministério foi um grupo de vencidos. Todos aqueles que perderam as eleições e que eram amigos do Lula foram colocados”.
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P.S. – Isso tudo é da série “recordar é viver”. Amanhã tem mais, pois o debate está em aberto e a memória dos eleitores precisa ser realimentada.