Mônica Bergamo
Folha
A estratégia do presidente Jair Bolsonaro (PL) de se aproximar fisicamente do ex-presidente Lula (PT) durante o debate realizado no domingo (16) é idêntica à adotada por Donald Trump durante um confronto com Hillary Clinton, em 2016, quando os dois disputavam a Presidência dos Estados Unidos.
Bolsonaro é admirador de Trump, e seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) mantém contato estreito com estrategistas das campanhas disputadas pelo norte-americano.
DISSE HILLARY – No pleito de 2016, Trump se manteve próximo da candidata ao longo do segundo debate entre presidenciáveis. Em um livro de memórias, Hillary afirmou que pôde sentir a respiração do republicano em seu pescoço, tamanha a proximidade.
Durante o debate promovido por Folha, UOL, TV Bandeirantes e TV Cultura no domingo, Jair Bolsonaro chegou a tocar fisicamente em Lula, postando-se bem ao lado do petista em vários momentos.
Em uma das passagens, após o candidato do PT prometer levantar sigilos impostos pela atual gestão do governo federal, o presidente da República passou cerca de dez segundos em silêncio, encarando seu adversário, para em seguida esboçar um sorriso discreto.
“FICA AQUI, LULA” – Expressando desconforto com a situação, Lula disse estar à disposição do candidato do PL. Bolsonaro, então, colocou a mão no ombro do ex-presidente e disse: “Fica aqui, Lula. Fica aqui”.
Em outro momento, o petista fez um questionamento ao mandatário sobre o desmatamento na Amazônia. “Então fica aqui que eu explico. Pode ficar aqui?”, respondeu Bolsonaro, apontando com o dedo indicador para o chão, em direção aos seus pés.
Integrantes do núcleo duro da campanha do PT acreditam que as atitudes fizeram com que Lula perdesse a sua concentração.
LULA SE PERDEU – O desempenho ruim do petista no terceiro bloco do debate teria sido uma das consequências. Lula falhou na gestão do tempo e deu oportunidade para que Bolsonaro falasse por mais de cinco minutos sozinho, sem contraponto. O equívoco foi comemorado pelo entorno do chefe do Executivo, como mostrou a Folha.
De acordo com pesquisa realizada pela consultoria Quaest, o petista recebeu mais comentários positivos nas redes sociais durante os dois primeiros blocos do debate, tendo entre 43% e 46% de menções positivas, índice superior ao de Bolsonaro.
No terceiro e último deles, Bolsonaro reverteu a situação e ultrapassou seu adversário, alcançando 51% dos comentários elogiosos.
LIVRO DE MEMÓRIAS – A experiência entre Hillary Clinton e Donald Trump nas eleições americanas de 2016 foi relatada pela democrata em um livro de memórias.
“Estávamos em um pequeno palco e não importava para onde eu fosse. Ele me seguia de perto, me encarando, fazendo caretas. Foi inacreditavelmente desconfortável. Ele estava literalmente respirando no meu pescoço. Minha pele arrepiou”, afirmou ela.
O trecho foi lido pela ex-secretária de Estado e registrado em áudio.
NOTA DA REDAÇÃO DO SITE – Caramba, amigos e amigas! Enfim, apareceu uma jornalista que assistiu ao mesmo debate do que eu. É por sua independência que tenho elogiado Mônica Bergamo aqui na Tribuna. Jornalista precisa ter informantes em todos os partidos, mas não deve permitir que esse relacionamento influa em seu trabalho de análise política. Mônica Bergamo é craque na profissão.