Pedro do Coutto
Sem dúvida, devolver e redespertar a esperança na juventude de 15 a 29 anos será o ponto mais importante nesta chegada das eleições presidenciais. Com base numa pesquisa importante do Datafolha, o repórter Fernando Canzian publica matéria de página inteira na edição deste domingo da Folha de S. Paulo, revelando que 76% dos jovens e das jovens têm vontade de deixar o país, e tal disposição só pode ser explicada, a meu ver, pela falta de expectativa que, como uma sombra, retira o entusiasmo das pessoas.
É fundamental, portanto, que o presidente a ser eleito no dia 30 tenha como objetivo reviver um tempo de esperança, sem o qual é impossível qualquer projeto de levar o Brasil a uma etapa efetiva de desenvolvimento econômico e social.
DIZIA JUSCELINO – Política, acima de tudo, é esperança, como dizia com grande clareza o presidente Juscelino Kubitschek. Essa esperança está faltando nos dias de hoje num impulso negativo produzido por vários fatores, o primeiro dos quais a falta de um projeto concreto de governo.
Neste caso, a responsabilidade maior é do presidente Jair Bolsonaro que ao longo de quatro anos não conseguiu formular um projeto chamado Brasil, voltado tanto para o presente quanto para o futuro. A fala de tal projeto que também ocorreu ao longo do governo Dilma Rousseff, principalmente em seu segundo mandato que culminou com o impeachment, é essencial e insubstituível para qualquer tentativa efetiva de progresso.
SEM PROJETO -Atualmente, por exemplo, o projeto econômico e social da Administração, baseia-se no assistencialismo do Auxílio-Brasil, do vale-caminhoneiro e do vale-taxista; transferências de renda concedidas pelo Estado a grupos tanto em extrema situação de pobreza quanto sob a forma de conquista de votos nas urnas.
Esquece-se o mercado de trabalho, não se considerando uma informalidade de 39%, o que impedirá a aposentadoria pelo INSS dos que trabalham sem vínculo empregatício, e que também não estão inclusos no FGTS.
Fernando Canzian destaca que para a juventude praticamente na mesma proporção do desânimo, os jovens e as jovens acreditam que daqui para frente o Brasil permanecerá em situação semelhante a do presente. Quanto mais jovem for a pessoa, maior é sua vontade de deixar o Brasil.
PERDAS – Esse fenômeno, assinala a matéria, começou a ocorrer de 2014 a 2016, período Dilma Rousseff, em que os jovens trabalhadores e trabalhadoras perderam 26% de sua renda anterior ao período, e a taxa de desocupação entre os de 18 a 24 anos estava em 19,3%. De outro lado, um levantamento do Departamento do Instituto de Pesquisas Educacionais (Instituto Anísio Teixeira) mostra que a taxa de abandono no ensino dobrou em 2021.
Eis aí, portanto, a disposição tanto de Lula quanto de Bolsonaro, dados que devem ser focalizados com destaque no debate do dia 28, na TV Globo. Fica o tema, portanto, para a última etapa da campanha, uma vez que o debate na Globo e na GloboNews será realizado dia 28, na antevéspera das urnas.
Os jovens também se queixam dos baixos salários atualmente oferecidos pelo mercado de trabalho. Com isso, não se realiza a redistribuição de pelo menos 10% do capital para o trabalho. Pelo contrário, através do Auxílio Brasil, como por intermédio do antigo Bolsa Família, o Palácio do Planalto está estatizando a mínima transferência de renda que o programa proporciona, embora esse mínimo de transferência seja essencial para fazer com que milhões de pessoas escapem do processo de fome ainda mais intenso do que aquele em que se encontraram ao longo dos meses.
PESQUISAS – Os ataques desfechados por setores do governo contra os institutos de pesquisa, no caso o Datafolha e o Ipec, são absurdos na medida em que pedem investigações policiais absolutamente ineficazes, como acentua numa longa exposição no caderno Ilustríssima da Folha de S. Paulo de ontem, o professor Antonio Lavareda. Basta ver o seguinte, o Datafolha apontou 50% dos votos para Lula no primeiro turno.
Ele obteve 48,4%. O erro, portanto, foi de 1,6% e a colocação dos candidatos foi certa. O Ipec apontou 51% A diferença aí foi um pouco maior, mas dentro de uma faixa aceitável. Não houve grande choque com a realidade. Os fatos comprovam a afirmação. Mas em São Paulo, aí houve erros efetivos. Os dois institutos apontaram a chegada em primeiro lugar de Fernando Haddad com Tarcísio de Freitas em segundo.
Aconteceu o oposto. O resultado, portanto, influi no cálculo geral das pesquisas, impedindo que as previsões se confirmassem. É verdade que as diferenças separaram o primeiro do segundo turno, daí a dimensão do equívoco se tornar maior.
ABSTENÇÃO – O professor Antonio Lavareda, na minha opinião, poderia se restringir a essa diferença na legítima defesa que fez do Datafolha e do Ipec. Mas ele se estendeu nos cálculos, invocando taxa de abstenção e os votos válidos como pontos fundamentais das diferenças verificadas. Não é necessário.
A abstenção e o cálculo dos votos válidos estão embutidos naturalmente nas pesquisas de intenção de voto. A abstenção no Brasil, acentuo mais uma vez, refere-se mais à taxa de mortalidade e situações incapacitantes ocorridas entre o último cadastramento do TSE e as eleições que se realizam. As famílias dos que falecem (índice anual em cerca de 0,7%) em sua grande maioria não dão baixa nos títulos junto à Justiça Eleitoral.
FAVORITISMO – O maior índice de abstenção decorre deste fato e também no problema da hospitalização nas proximidades dos pleitos. Agora mesmo, reportagem de Eduardo Cucolo, Folha de S. Paulo de ontem, destaca com base em outra pesquisa do Datafolha que, apesar do Auxílio Brasil ter aumentado de R$ 400 para R$ 600, a maior parte dos que o recebem manifestaram-se em favor de Lula e não de Bolsonaro.
No momento, a diferença é de 62 pontos contra 33, e subiu 7% em relação à pesquisa realizada entre 5 e 7 de outubro. A atual pesquisa foi realizada oito dias depois. Portanto, entre 13 e 14 deste mês. Logo, verifica-se que a divisão do eleitorado por renda familiar não se encontra somente no aumento de um benefício. Suas razões são mais amplas.