Joice Borges
Sim! Eleitores “independentes” são reais e, ao discorrer deste texto, é sobre eles; ou melhor, sobre qual o lugar de fala destes – ou se têm legitimidade.
O Brasil vive uma séria crise política e de representatividade, em consequência dos rumos ideológicos. Há quem pense que, esse é o movimento natural das sociedades complexas; dependendo da ideologia política que estiver em ascensão, no executivo, o modo de operacionalização política e jurídica será em acordo. Há quem discorde da “naturalidade” desse pensamento e afirme que, na história dos governos democráticos, desde o fim da ditadura militar, no Brasil, o atual governo é o mais perigoso e é necessário, com urgência, tirá-lo.
Os números da eleição para presidente, após o primeiro turno, chamam atenção; 1.964.779 votos em branco e 32.770.982 abstenções, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral. Se a política está em todas as esferas da vida humana, assim como a concepção da filósofa política alemã Hannah Arendt de que, a política está como a “liberdade”, porque tantos votos em branco e abstenções? Será mesmo que, se resume, apenas, entre “preferiu votar branco à democracia”, ou será que existem, de fato, eleitores confusos e perdidos em quem, realmente, acreditar? Será mesmo que tudo se resume em A ou B? Ou melhor, entre Lula e Bolsonaro? Ou tudo se resume a discursos? Entre os extremos, existe o caminho do meio e ele é infinito – não há como controlá-lo.
As argumentações (leia-se, de boa parte. Não estão inclusos os fanáticos) são legítimas; dados, teorias e toda a teia lógica e discursiva construída em prol das convicções ideológicas. Porém, se tratando, realmente, do social, o que resta? A quem resta? Ao eleitor cansado, de tantas notícias, fake news e brigas, o que se deve esperar? Percebe-se um cansaço existencial desses tantos nulos e abstenções. De fato, há muita gente “linda, elegante e sincera” buscando políticas públicas e em sintonia com os discursos que defendem. Porém, há uma grande parcela de personagens políticos e não políticos, que afasta boa parte de possíveis eleitores.
Tentando nos despir das falácias de “lacração”, e de quem tem o discurso mais bonito, tão cultuados nos grupos de WhatsApp e demais redes sociais e, partindo da premissa de que não existe “pai dos pobres” e super-herói na política, tentaremos analisar uma lacuna, nos modos de fazer política, que, provavelmente, implique na decisão de tantos eleitores. O que conecta e cativa o eleitor, que sente uma imensa escassez de representatividade e segurança na oratória política? As famosas caminhadas com os mesmos grupos políticos? O que faz, um amontoado de apoiadores, que estão ali para defender seus próprios interesses, achar que o eleitor, com sede e fome de sonhos e possibilidades, vai optar por seu representante?
No caso do (PT), talvez isso seja mais gritante. Ora, gestores municipais (principalmente, de cidades do interior), que após a reeleição (de práxis, no Brasil) não dão continuidade aos investimentos que refletem, diretamente, os direitos mais fundamentais, como a saúde, além de abandonar as demais pastas do setor público, com suas equipes autoritárias e sem nenhum compromisso com a população, acha que conseguirá mobilizar eleitores pró-Lula? Supõe-se que, ao contrário, a imagem destes afastará a conexão.
E os subordinados, acham que, subir ‘hashtag’ a favor da democracia e participar de movimentos que não cativam, em nada, boa parte da população, surtirá efeito na mente destes? Os tempos são outros! Talvez, hoje em dia, seja necessário um esforço maior de energia, discurso e exemplo na operacionalização da política. Pois, foi e é, justamente, a hipocrisia, que abriu e continua abrindo largos espaços para os extremos do outro lado.
Dessa forma, o eleitor que não tem cargo a defender e que busca, apenas, oportunidade de emprego e renda sem demais interesses, se vê de mãos atadas. No primeiro turno, o resultado se deu, em boa parte, nos nulos e abstenções. E no segundo, como sucederá?