Carlos Newton
Não mais que de repente, diria Vinicius de Moraes, a política econômica a ser implantada por Lula da Silva se tornou uma elemento fundamental na sucessão. Primeiro, a jornalista Miriam Leitão escreveu sobre o “risco do programa econômico secreto de Lula”, fazendo os empresários exigirem que Lula exibisse suas metas, sob argumento de que não seria admissível dar uma carta-branca ao candidato do PT. É um comportamento estranho, porque fica parecendo que estão duvidando das palavras do político que se declara “a viva alma mais honesta neste país”, como é sempre bom lembrar:
“Se tem uma coisa de que me orgulho e que não baixo a cabeça para ninguém é que não tem nesse país uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, do Ministério Público, da Igreja Católica, da Igreja Evangélica, nem dentro do sindicato. Pode ter igual, mas eu duvido”, afirmou em uma entrevista a blogueiros na sede do Instituto Lula, zona sul paulistana, em 2016.
Dois anos depois da declaração, a alma viva mais honesta do país foi presa para cumprir pena por corrupção e lavagem de dinheiro, vejam que ironia.
EM DEFESA DE LULA – Agora, diante das críticas desfechadas à carta-branca pretendida por Lula, imediatamente saiu na defesa dele o jornalista Janio de Freitas, decano dos cronistas políticos do país. Disse ele que “a exigência de nome de Lula para a economia é pretexto para apoiar Bolsonaro”.
“A pobreza mental e moral desse empresariado que age na política só por interesse direto, dominado por ganância e egoísmo patológicos, é responsável por grande parte das desgraças que assolam o país. A corrupção grossa começa por aí”, acentuou Janio de Freitas, acrescentando:
“Lula governou por oito anos, encerrados há menos de 12, e saiu com 82% de aprovação ao seu governo. Não saber quais são as ideias e métodos, que o caracterizam como governante e como pessoa, só se explica por asnice insolúvel”, assinalou o respeitado jornalista.
DISCUSSÃO BIZANTINA – Peço licença para entrar no debate, que até considero bizantino, como se dizia antigamente quando se tentava discutir o sexo dos anjos.
Na verdade, o máximo que Lula pode fazer é dizer quem será o ministro da Fazenda. Quanto ao programa econômico, o candidato do PT não tem, porque nunca teve. Pouca gente reparou que Lula disputou todas as eleições sem ter programa econômico. Quando enfim venceu, em 2002, teve a sorte de nomear o economista Carlos Lessa para o BNDES, para agradar ao MDB.
Antes de assumir, Lessa perguntou aos dirigentes do PT qual era o programa do governo e não havia nada, rigorosamente nada. Procurou diretamente Lula que lhe pediu apenas duas coisas – que reativasse a indústria naval, para dar trabalho aos metalúrgicos e incentivasse o transporte ferroviário.
ATRAVESSOU A RUA – Quando assumiu, Lessa atravessou a Avenida Chile e negociou com a Petrobras a reativação da indústria naval. Mandou o BNDES estudar as ferrovias e implantou seu próprio programa econômico.
Em parceria com o engenheiro Darc Costa, vice-presidente do BNDES, Lessa fez uma gestão rápida e revolucionária. Facilitou o financiamento a micros, pequenas e médias empresas com o Cartão BNDES, colocou em ação programas para modernizar indústrias e financiar inovações, colocou a economia para funcionar.
Foi um sucesso. A economia respondeu bem, Lula comemorou PIB de 7,5% em 2010, mas fez a burrice de demitir Lessa, que denunciara a incompetência de Antonio Palocci, o médico petista que era ministro da Fazenda, vejam a loucura que é este país.
P.S. – Ao sair, Lessa disse que a recuperação da economia “seria um voo de galinha” e classificou seu substituto Guido Mantega como um brasileiro com “b” minúscula. Não deu outra – acertou nas duas previsões. Mas ficou claro que o BNDES é o instrumento ideal para recuperar a economia. Aliás, não foi por mera coincidência que há algumas décadas o governo chinês enviou ao Rio de Janeiro um grupo de economistas para estudar o BNDES e criar um banco de desenvolvimento idêntico para alavancar a economia chinesa. Mas quem se interessa? Lula não tem programa econômico, e Bolsonaro, também não. Isso diz tudo sobre o Brasil.