Felipe Frazão
Estadão
Em reunião no Quartel-General, o Alto-Comando do Exército selou posição de respaldar o resultado das eleições presidenciais. O colegiado mais influente das Forças Armadas, formando por 16 oficiais-generais e pelo comandante-geral do Exército, indicou que a caserna vai seguir o rito de reconhecer o anúncio do vencedor pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Quem ganhar leva”, enfatizaram militares. A mensagem começou a ser disseminada na tropa logo depois dos encontros, realizados na primeira semana de agosto.
CINCO REUNIÕES – A última RACE (Reunião do Alto-Comando do Exército) terminou oficialmente com uma nota lacônica. Foram cinco encontros, realizados entre os dias 1 e 5 de agosto. Como de praxe, o comunicado informava apenas que foram discutidos assuntos “de interesse da Força”.
O Estadão apurou que, ao passo que a posição dos generais se espalhava pelos quartéis do País, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica começaram a evitar exposição política e a dar sinais de distanciamento da inédita auditoria das eleições, que vai checar parcialmente a soma dos votos no domingo e monitorar testes de funcionamento das urnas eletrônicas. A auditoria foi um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na prática, a posição do Alto Comando do Exército pode reduzir o impacto da auditoria das urnas de votação. Fontes militares com conhecimento do assunto disseram à reportagem que o documento com o resultado dessa auditoria não vai adentrar na seara de atestar ou reprovar a confiança das eleições.
APENAS FISCALIZAÇÃO – O texto da auditoria militar no TSE deve se restringir a reportar o trabalho de fiscalização nas suas duas últimas fases: os testes de integridade das urnas e a checagem amostral do somatório por meio de boletins de votação. Um general enfatizou que o trabalho será “técnico”.
A auditoria será centralizada em uma sala do Ministério da Defesa. O roteiro traçado é emitir, na própria noite de domingo, um documento contendo os achados técnicos da fiscalização.
Os militares vão monitorar os testes de integridade, que verifica o funcionamento correto dos equipamentos, em 641 urnas, sendo 56 delas com uso de biometria de eleitores. Esse modelo é um “projeto-piloto” aceito pelo TSE por pressão dos militares.
AMOSTRAGEM – A apuração na Defesa, usando arquivos de dados e cópias de boletins de urna colhidos nas seções, não deve passar de uma amostra com até 400 urnas, em vez da totalização completa.
A Defesa pretende concluir o trabalho em quatro horas e enviar por volta de 21 horas a auditoria ao TSE. O ministro Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que assinará sozinho o relatório, informará Bolsonaro sobre o conteúdo.
O propósito do documento, segundo militares, é relatar o que foi verificado. Uma ressalva que costuma ser feita pelos oficias envolvidos é que um sistema informatizado nunca está 100% blindado e precisa sempre de aprimoramento. Bolsonaro explora essa informação politicamente, dizendo que o risco de fraude é “quase zero, mas não é zero”.
SEM HAVER DESGASTE – Diante de um cenário de desgaste para o setor, o Alto Comando, formado em maioria por oficiais da ativa promovidos ao topo da carreira nos últimos quatro anos, considera que a contestação do resultado das eleições e o questionamento da legitimidade das urnas eletrônicas devem ficar circunscritos ao presidente e aos militares da reserva da campanha da reeleição ou que ocupam cargos políticos no governo.
Estão nessa lista antigos quatro estrelas, como Walter Souza Braga Netto (candidato a vice na chapa de Bolsonaro), Augusto Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência).
Diante dos indicativos de que Bolsonaro questionará o resultado da Corte, os militares afirmam que o presidente terá de fazê-lo por meios legais e jurídicos de sua campanha.
PROTESTO INÓCUO – Mesmo na caserna, a impressão é que a contestação de Bolsonaro se esgotaria e seria infrutífera, conforme um general, por causa do respaldo que o TSE tende a receber de órgãos externos. O Tribunal de Contas da União (TCU), por exemplo, pressionou a Defesa a explicitar documentadamente o método e intenções da auditoria nas eleições, o que foi chamado nos bastidores do poder de “fiscalização da fiscalização”.
Após uma trégua às críticas ao TSE e às urnas, Jair Bolsonaro voltou a atacar o tribunal e em especial o presidente da Corte, Alexandre de Moraes.
Ele abandonou o silêncio sobre o tema e retomou a campanha pelo voto impresso e a bateria contra o sistema eletrônico, dizendo que “algo anormal” terá ocorrido se não vencer o pleito no primeiro turno, cenário jamais indicado por qualquer pesquisa de intenção de votos.
NOTA DA REDAÇÃO DO SITE – Mais uma comprovação de que o golpe pretendido por Bolsonaro já foi sepultado pelas Forças Armadas, com missa de corpo presente e tudo o mais. Se não houver segundo turno, só resta a Bolsonaro reclamar com o Bispo Macedo, que não quer saber de encrenca e apoia sempre quem tiver sido eleito.