Bruno Boghossian
Folha
Os índices de rejeição a Jair Bolsonaro se tornaram o fator determinante daquilo que pode ser um movimento de voto útil em Lula no primeiro turno. A consolidação desses números acima do patamar de 50% elevou para o presidente o risco de o eleitor antecipar uma decisão de interromper seu governo.
Além de conquistar ou recuperar votos, Bolsonaro também precisa administrar essas taxas de rejeição para continuar no jogo. O presidente enfrenta um desafio nessa área porque o eleitorado tem mostrado uma resistência firme a seu nome e emitido sinais de sensibilidade a fatos negativos produzidos por ele.
DILEMA NO FINAL – O quadro explica um dilema da campanha de Bolsonaro nesta reta final da disputa. Nas últimas semanas, o presidente foi orientado a ajustar o tom de algumas declarações e evitar gestos mais agressivos, capazes de aumentar sua rejeição.
O problema é que uma postura comedida (para os padrões de Bolsonaro) enfraquece a imagem que ele cultivou ao longo dos anos para ocupar o noticiário, viralizar nas redes e agitar a arena política.
Bolsonaro pode precisar desse personagem agora mais do que nunca. Ainda que ganhe votos com isso, ele também pode acumular uma rejeição extra —o que pode ser fatal.
OUTROS INDICADORES – As últimas pesquisas sugerem que a oposição a Bolsonaro cria uma brecha para o voto útil. Segundo o Datafolha, 70% dos eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet dizem não votar no presidente de jeito nenhum. A rejeição a Lula nesse grupo também é relativamente alta (48%), mas a diferença entre os dois números pode influenciar a decisão do eleitor.
Alguns apoiadores de Ciro e Simone andam pensando no que fazer diante da urna. Pesquisa da Quaest mostrou que 33% dos eleitores do pedetista e 24% dos eleitores da emedebista topariam mudar o voto “para Lula vencer no primeiro turno”.
Essa migração parece depender menos das palavras de Ciro e Simone a seus apoiadores do que das ações de Bolsonaro. O presidente pode ser o maior cabo eleitoral do voto útil.