Cercado pelos jornalistas, que foram cobrar o desrespeito ao minucioso e bem-fundamentado parecer do procurador-geral da República, Paulo Gonet, que apontou a impossibilidade de cancelar as condenações de José Dirceu, um titubeante Gilmar Mendes não conseguiu se explicar nesta quarta-feira. Gaguejando e procurando as palavras, mostrou-se totalmente perdido. Ao final, sem ter justificativas, buscou socorro no coletivo do Supremo: “É um direito nosso decidir contra a Procuradoria”, disse. E deu um sorriso sem graça. Com a máxima vênia, nenhum integrante do Supremo tem direito de ignorar um trabalho primoroso da Procuradoria e decidir contra, sem sequer citá-lo e rebater seus argumentos. É preciso lembrar que a Procuradoria é “fiscal da lei”, estava avisando que o recurso de Dirceu não tinha substância jurídica, mas Gilmar Mendes desprezou tudo isso e jogou no lixo o parecer de Gonet, que é seu amigo íntimo e ex-sócio. Em tradução simultânea, capitaneado pelo decano Gilmar Mendes, o Supremo tornou-se uma vergonha nacional. O ministro que deveria dar o exemplo é o pior de todos.