Os “kids pretos” se infiltraram e lideraram o vandalismo
Carlos Newton
Como se dizia nos anúncios fúnebres de antigamente, cumprimos hoje o doloroso dever de comunicar a morte da verdade, que é a primeira vítima das guerras e também das ditaduras. Aqui na Tribuna da Internet, muitos articulistas e comentaristas têm manifestado a opinião de que ainda estamos em regime de democracia plena, porque, se estivéssemos numa ditadura, esse espaço livre na internet jamais existiria.
É preciso concordar com esse raciocínio, mas podemos e devemos ressalvar que o limite entre uma ditadura e uma democracia pode ser muito tênue. Acredito que estejamos costeando o alambrado, como dizia Leonel Brizola, porque já existem determinadas evidências concretas de uma derrocada do regime democrático.
UM BOM EXEMPLO – Desde o 8 de Janeiro, temos defendido aqui na Tribuna a tese de que o vandalismo em Brasília foi incentivado por um grupo de baderneiros profissionais, digamos assim, que estavam armados de porretes e barras de ferro, conseguiram se infiltrar na multidão e lideraram concretamente a invasão dos palácios.
Depois, divulgamos outra informação importante, dando conta de que, às vésperas da invasão da Praça dos Três Poderes, chegou a Brasilia um grupo de militares das tropas de elite, apelidados de “kid pretos”, que se hospedaram em hotéis da capital e se infiltraram para liderar a baderna.
Pesquisamos as fotos do tumulto e realmente encontramos esses “kids pretos” em ação no 8 de Janeiro, usando inclusive máscaras contra gás lacrimogêneo, e publicamos diversos artigos cobrando que o Supremo e a Polícia Federal investigassem essas gravíssimas denúncias.
NINGUÉM OUVIU – Infelizmente, nada aconteceu, os investigadores da PF e da força-tarefa do ministro Alexandre de Moraes simplesmente desconheceram o assunto, não requisitaram as listas de hospedagem nos hotéis nem as relações de passageiros das companhias aéreas nos três dias que antecederam a invasão.
Mais de um ano depois de termos feito essas graves denúncias, o comentarista José Guilherme Schossland, sempre atento ao lance, nos envia uma coletânea de filmagens feitas por celular que mostram os “kids pretos” liderando a invasão e o vandalismo, enfrentando os PMs e tudo o mais.
Uma imagem vale mais do que mil palavras, dizia o pensador chinês Confúcio, dois mil e trezentos anos antes de o francês Joseph Nicéphore Niépce ter inventado a fotografia. E a coletânea enviada por Schossland traz até o rosto de um dos infiltrados e uma imagem de outro “kid preto” com máscara contra gases e fone de ouvido para receber instruções.
UMA COMÉDIA – Isso significa que a apuração da Polícia Federal e do Supremo é apenas uma comédia, uma farsa mal ensaiada.
O ministro Moraes também não quer apurar nada e prefere curtir seu sadismo condenando aqueles pés de chinelo a 17 anos de cadeia, e sendo carimbados como “terroristas”, algo que nem sabem o que significa, quando o único crime que cometeram foi acreditar em políticos falsos e oportunistas, que pensavam mais em seus interesses do que nos verdadeiros interesses do país.
Os “kids pretos” estão escapando impunes, e isso explica muita coisa.
P.S. – Foi por isso que o então ministro da Justiça, Flávio Dino, apressou-se em sumir com as gravações das câmaras situadas no seu ministério, em frente ao Congresso e ao lado do Planalto, onde os “kid pretos” agiram. Como no dia 8 as Forças Armadas já respondiam a Lula, os “kid pretos” tinham de ser investigados e presos, mas não há interesse. Foi por isso, também, que o poético general Gonçalves Dias nem foi investigado, embora tivesse sido filmado percorrendo o palácio e fazendo relato por celular, depois confraternizando com os invasores e até mandando servir água mineral a eles. O fato é que o país apodreceu e a Justiça mergulhou fundo no lamaçal. Ainda não estamos numa ditadura, mas é como se já estivéssemos.