Pedro Augusto Figueiredo
Estadão
Ex-ministro em governos petistas, Aldo Rebelo considera que o presidente Lula da Silva (PT) se radicalizou politicamente e ideologicamente e tenta agora dividir São Paulo e o país em dois blocos, o que vai na contramão dos dois primeiros governos do petista, quando fez alianças com o MDB e nomes à direita como Valdemar Costa Neto (PL) e Ciro Nogueira (PP-PI).
Rebelo, próximo secretário de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, atuará na campanha à reeleição de Ricardo Nunes (MDB-SP). Ele rebate Lula, que recentemente disse que a eleição na capital paulista será entre ele e Jair Bolsonaro (PL). Enquanto o presidente petista apoia Guilherme Boulos (PSOL-SP), Bolsonaro e o PL apoiarão a reeleição de Nunes.
DIZ REBELO – “Nunes é do MDB, que é aliado ao governo e tem três ministérios. Não faz sentido essa ideia que a eleição municipal vai repetir a polarização da eleição presidencial”, diz o futuro secretário. “Acho que Lula é atormentado por fatores que eu desconheço e que o conduzem a tentar fazer de São Paulo palco de uma guerra ideológica que não serve a ele, a São Paulo e ao Brasil”, continua.
Aldo Rebelo diz achar “estranho” que Lula e o PT apoiem Boulos diante da atuação do deputado federal durante o governo Dilma. O candidato do PSOL liderou manifestações contra a Copa do Mundo e também era crítico da política de alianças petistas com partidos do Centrão.
“A tentativa de Boulos sempre foi a de substituir o PT como o grande partido das forças progressistas do Brasil. E se fosse necessário destruir o PT, não foi poupada nenhuma energia nesse sentido.”, ironiza o ex-ministro.
CONVITE DE NUNES – Aldo Rebelo conta que foi procurado pelo prefeito ainda em dezembro, antes de Marta Suplicy, sua antecessora no cargo de secretário, aceitar voltar ao PT para ser vice de Boulos. O convite feito no ano passado não foi específico para a pasta de Relações Internacionais, embora Rebelo ache que provavelmente Nunes já desconfiasse que a Marta já estava em negociações para apoiar o candidato do PT.
Ele só assumirá o cargo na prefeitura em fevereiro. Para isso, teve que licenciar-se do PDT, partido ao qual atualmente está filiado e que apoia o candidato do PSOL.
No PDT, Rebelo se aproximou do grupo Nova Resistência, que, segundo o jornal O Globo, foi classificado pelo Departamento de Estado dos EUA como neofascista e disseminador de desinformação pró-Rússia pelo. Também foi apontado como ameaça à segurança nacional pelo Banco Central em 2021.
QUARTA TEORIA – O grupo defende a Quarta Teoria Política, filosofia criada pelo russo Alexandr Dugin, um dos principais influenciadores do pensamento de Vladimir Putin. Em seu site, a Nova Resistência propõe, por exemplo, proibir e expulsar “todas as ONGs globalistas do território brasileiro”.
Aldo Rebelo afirma que sempre aceita convites para fazer palestras e não foi diferente com o Nova Resistência, que na visão dele é um grupo nacionalista. Segundo o ex-ministro, há uma tentativa de classificar o nacionalismo como uma ideologia conservadora ou fascista, argumento do qual ele discorda.
“Não fazem a distinção entre o nacionalismo agressivo das nações fortes, esse sim um nacionalismo dominador que é uma ameaça à democracia, E o nacionalismo das nações frágeis e emergentes, que querem apenas se proteger do nacionalismo dos fortes”, diz.
REVANCHISMO – Ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo também critica o que vê como “revanchismo” da esquerda contra as Forças Armadas após os atos de 8 de Janeiro, fenômeno que, segundo ele, deriva da ditadura de 1964 e permanece até os dias atuais.
“Os integrantes das Forças Armadas podem ter cometido os seus erros, mas dizer que as Forças Armadas como instituição participaram de articulação golpista não é verdade”, declara o ex-ministro, que defende a pacificação política do país.