Pedro do Coutto
No final da tarde de sábado, ao participar de manifestação com apoiadores na cidade de Resende, depois de uma carreata na Rodovia Presidente Dutra, o presidente Jair Bolsonaro, pela primeira vez na campanha, afirmou que respeitará o resultado das eleições de outubro, mesmo se não for reeleito pela população.
A reportagem no O Globo de ontem que focaliza o assunto é de Jan Niklas, Julia Noia, Malu Mões e Chico Otávio, que acompanharam o evento e registraram a manifestação de Bolsonaro assegurando o respeito à decisão dos eleitores e eleitoras nas urnas de outubro. Dessa vez, em Resende, Bolsonaro não levantou dúvidas sobre as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro.
RADICALISMO – Nos últimos dias, aliás, o presidente da República parece afastar-se da linha radical. Na minha opinião, não se sabe se o afastamento é definitivo ou apenas um lance decorrente de resistências militares às pregações contrárias à democracia.
“A nossa democracia, a nossa liberdade, estão acima de tudo”, acrescentou Bolsonaro, que estava acompanhado de Braga Netto, seu candidato a vice, do senador Flávio Bolsonaro e do ex-campeão de Fórmula 1, Nelson Piquet.
LULA NO ANHAGABAÚ – Enquanto Bolsonaro falava em Resende, Lula da Silva participava de um comício no Vale do Anhangabaú, Centro da cidade de São Paulo. Lula afirmou que não há possibilidade de o atual presidente da República não entregar a faixa a seu sucessor se for derrotado nas urnas de outubro.
“Quero mandar um recado ao presidente:não tenha preocupação com o Lula, não tenha preocupação com o Alckmin. Nós não vamos fazer nada com você. Quem vai fazer é o povo brasileiro com o seu voto. Você vai entregar o governo, sim, porque é o povo quem vai colocar a faixa em mim e no Alckimin”, afirmou.
REPERCUSSÃO – Não se pode minimizar, mesmo que pensando não ser real o impulso de respeito à democracia acentuado por Bolsonaro na cidade de Resende, a importância da repercussão pública de suas palavras que se chocam com o posicionamento de eleitores radicais em favor de sua permanência no poder, como chegaram a assinalar há dois anos nas concentrações da Esplanada de Brasília quando defenderam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
A repercussão das palavras de Bolsonaro de qualquer forma pesará não só nos rumos da campanha eleitoral, mas também entre a corrente militar que o apoia, na medida em que, indiretamente, revela uma divisão eleitoral nas próprias Forças Armadas. De qualquer forma, o projeto democrático e de respeito à voz das urnas ficou acentuado e criou uma resistência ainda maior à qualquer perspectiva de golpe contra as instituições, sobretudo porque, vale frisar, o golpe só pode ser desfechado pelas Forças Armadas.
A população civil não tem, graças a Deus, essa capacidade, embora a aquisição de armas tenha sido fortemente facilitada pelo atual governo. Mas o Exército, a Marinha e a Aeronáutica não podem caminhar ombro a ombro com milícias civis.